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Navegando pela tempestade: estratégias inteligentes para investir em cenários de volatilidade cambial

O mercado financeiro brasileiro tem enfrentado períodos de intensa volatilidade cambial nos últimos anos, criando tanto desafios quanto oportunidades para investidores. Em 2024, o dólar já acumulou uma valorização significativa frente ao real, impactando diversos setores da economia e classes de ativos. Essa oscilação afeta diretamente o poder de compra, o custo de produtos importados e, principalmente, o desempenho de investimentos. Compreender como navegar por esse cenário turbulento tornou-se essencial para quem busca proteger seu patrimônio e também identificar oportunidades de crescimento. Em mais um artigo sobre o tema, apresento estratégias práticas para investir em um ambiente de instabilidade cambial, apresentando alternativas para diferentes perfis de investidores e objetivos financeiros, sempre com base em dados concretos e análises fundamentadas do mercado brasileiro.

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Entendendo a volatilidade cambial e seus impactos

A volatilidade cambial representa as oscilações no valor de uma moeda em relação a outra ao longo do tempo. No Brasil, essas flutuações têm sido uma constante, influenciadas por fatores como política monetária, cenário fiscal, fluxos de capital estrangeiro e contexto internacional. Segundo dados do Valor Econômico de julho de 2023, o índice do JPMorgan Chase que acompanha a volatilidade implícita de moedas do G7 tem oscilado em níveis historicamente baixos em alguns períodos, mas no Brasil, a realidade é diferente.

O impacto dessa volatilidade vai muito além da simples variação de preços. Ela afeta diretamente diversos setores da economia e classes de ativos. Empresas com dívidas em dólar, por exemplo, podem ver seus passivos aumentarem significativamente durante períodos de desvalorização do real. Por outro lado, exportadores tendem a se beneficiar quando o dólar se valoriza, já que suas receitas em moeda estrangeira se convertem em mais reais.

Para o investidor, compreender esses mecanismos é fundamental. A volatilidade cambial pode tanto erodir retornos quanto criar oportunidades de ganhos expressivos, dependendo do posicionamento da carteira.

Quem ganha e quem perde com a oscilação cambial

A dinâmica de “ganhadores e perdedores” na volatilidade cambial é clara quando analisamos o mercado de ações. Conforme reportado pela Exame em junho de 2024, empresas como Suzano (SUZB3), Vale (VALE3), Klabin (KLBN11) e Petrobras (PETR4) tendem a se beneficiar com a desvalorização do real, pois têm grande parte de suas receitas dolarizadas. A Suzano e a Vale, por exemplo, têm 100% de sua receita atrelada ao dólar, enquanto a Petrobras tem cerca de 80%.

Em contrapartida, companhias aéreas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) sofrem com a valorização do dólar, pois vendem seus serviços em reais, mas têm custos significativos em dólar, como combustível e leasing de aeronaves. Varejistas de vestuário como Renner (LREN3) e C&A (CEAB3) também podem enfrentar pressão em suas margens quando o real se desvaloriza, já que parte de seus custos é dolarizada.

Essa dinâmica se estende para além do mercado acionário. Investidores com ativos no exterior ou fundos que investem internacionalmente podem ver seus retornos amplificados quando o dólar se valoriza frente ao real. Por outro lado, quem mantém apenas investimentos domésticos pode ver seu poder de compra internacional reduzido em cenários de desvalorização da moeda local.

O custo do hedge cambial

Uma estratégia comum para se proteger da volatilidade cambial é o hedge, que funciona como um seguro contra movimentos adversos da taxa de câmbio. No entanto, essa proteção tem um custo. Segundo o Valor Econômico de julho de 2023, os contratos de opções usados para hedge oferecem aos investidores o direito de comprar ou vender um ativo se os preços de mercado atingirem determinado nível. Se isso não ocorrer, o prêmio pago pela opção é perdido, tornando a estratégia não lucrativa.

Em períodos de baixa volatilidade, como observado em alguns momentos de 2023, essas estratégias de proteção podem se tornar caras e ineficientes. Julian Weiss, chefe de opções globais G10 vanilla no Bank of America, observou que “investidores que compraram hedges e se posicionaram para um ambiente mais volátil no início do ano tiveram que ser freados”, devido ao desempenho negativo dessas estratégias.

Isso não significa que o hedge deva ser abandonado, mas sim que deve ser utilizado de forma estratégica e com conhecimento técnico adequado. Em fevereiro de 2025, o Boletim Focus do Banco Central projetou o dólar na casa dos R$ 6,00 para 2025 e 2026, indicando uma tendência de alta que pode justificar estratégias de proteção para determinados investidores.

Estratégias de proteção e diversificação

Diante da volatilidade cambial, diversificar investimentos e adotar estratégias de proteção torna-se essencial. Vamos explorar algumas alternativas práticas para diferentes perfis de investidores.

Investimentos dolarizados: proteção natural contra a desvalorização do real

Uma forma direta de se proteger da desvalorização do real é investir em ativos dolarizados. Esses investimentos funcionam como uma proteção natural, pois se valorizam automaticamente em reais quando o dólar sobe. Entre as opções disponíveis no mercado brasileiro, destacam-se:

  1. ETFs de índices internacionais: Fundos como o IVVB11 (que replica o S&P 500) e o NASD11 (que replica o Nasdaq) permitem exposição aos mercados americanos sem a necessidade de enviar recursos para o exterior. Quando o dólar se valoriza, esses ETFs tendem a apresentar retornos amplificados em reais.
  2. BDRs (Brazilian Depositary Receipts): São recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na B3. Ao investir em BDRs de empresas como Apple, Microsoft ou Amazon, o investidor ganha exposição tanto ao desempenho dessas empresas quanto à variação cambial.
  3. Fundos cambiais: De acordo com o blog do Daycoval, publicado em setembro de 2024, os fundos cambiais são produtos de investimento que exploram as oscilações de moedas estrangeiras e acompanham a valorização da moeda internacional. Esses fundos podem ser uma alternativa interessante para quem busca proteção contra a desvalorização do real sem precisar comprar dólares diretamente.
  4. Contas multimoeda: Algumas instituições financeiras oferecem contas que permitem manter saldos em diferentes moedas. Essa alternativa facilita a gestão de recursos em moeda estrangeira e evita custos adicionais de conversão.

É importante ressaltar que, embora esses investimentos ofereçam proteção contra a desvalorização do real, eles também apresentam riscos específicos. ETFs e BDRs, por exemplo, estão sujeitos às oscilações dos mercados internacionais, que podem ser tão ou mais voláteis que o mercado brasileiro em determinados momentos.

Ações de empresas exportadoras: beneficiando-se da alta do dólar

Investir em ações de empresas exportadoras pode ser uma estratégia inteligente em cenários de desvalorização do real. Conforme reportado pela Suno Research em janeiro de 2025, algumas ações se destacam nesse cenário:

  1. Vale (VALE3): Como uma das maiores exportadoras de minério de ferro do mundo, a Vale tem receitas majoritariamente denominadas em dólar, enquanto seus custos são predominantemente em reais. Isso cria um efeito positivo em suas margens quando o real se desvaloriza.
  2. Petrobras (PETR4): A gigante do setor de petróleo e gás também se beneficia da alta do dólar, pois o preço do petróleo é cotado na moeda americana, e a estatal exporta parte relevante de sua produção.
  3. Klabin (KLBN11): A maior produtora de papel e celulose do Brasil exporta grande parte de sua produção para mercados internacionais, onde os preços são cotados em dólar.
  4. Braskem (BRKM5): A maior petroquímica da América Latina exporta uma parcela significativa de sua produção, além de ter receitas atreladas à moeda norte-americana.

A tabela abaixo resume o percentual de receita dolarizada de algumas empresas brasileiras, conforme dados do BTG Pactual citados pela Exame em junho de 2024:

EmpresaTicker% Receita Dolarizada
SuzanoSUZB3100%
ValeVALE3100%
PrioPRIO3100%
PetrobrasPETR480%
EmbraerEMBR393%
JBSJBSS3Significativa*
SLCSLCE3Significativa*
GerdauGGBR4Significativa*

*Percentual exato não especificado, mas considerado relevante pelo relatório.

É importante lembrar que, embora essas empresas se beneficiem da desvalorização do real no curto prazo, outros fatores como gestão, endividamento e cenário setorial também influenciam seu desempenho no longo prazo.

Diversificação global: reduzindo a exposição ao risco local

Uma estratégia recomendada por especialistas é a diversificação geográfica dos investimentos. Segundo Evandro Buccini, sócio e diretor de crédito e multimercados da Rio Bravo Investimentos, citado pelo InfoMoney em julho de 2024, “qualquer investimento em moeda estrangeira se beneficia nestes momentos. É uma relação contábil, com a depreciação do real os ativos no exterior passam a valer mais na moeda nacional”.

A diversificação internacional oferece não apenas proteção contra a desvalorização do real, mas também acesso a mercados e setores que podem não estar disponíveis no Brasil. Algumas alternativas para implementar essa estratégia incluem:

  1. Fundos de investimento internacional: Muitas gestoras brasileiras oferecem fundos que investem majoritariamente no exterior, em diversas classes de ativos e geografias.
  2. Investimento direto no exterior: Para investidores com maior conhecimento e capital, abrir uma conta em uma corretora internacional pode ser uma opção para investir diretamente em ações, ETFs e outros ativos estrangeiros.
  3. Fundos multimercado com exposição internacional: Esses fundos têm liberdade para balancear a carteira com diferentes ativos, incluindo exposição a moedas e mercados estrangeiros.

Buccini ressalta que “a diversificação internacional é fundamental. No entanto, a estratégia vai muito além do câmbio. O câmbio é um aliado em aumentar a descorrelação na maior parte dos ativos, mas o objetivo maior é a exposição a outras geografias. No longo prazo o câmbio não costuma ter contribuições muito significativas para os retornos”.

Montando uma carteira equilibrada em cenários de volatilidade cambial

Considerando as estratégias discutidas, como montar uma carteira que seja resiliente à volatilidade cambial? A resposta está em um equilíbrio cuidadoso entre proteção e oportunidade, adaptado ao perfil de risco e aos objetivos financeiros de cada investidor.

Alocação estratégica por perfil de risco

Para um investidor conservador, a exposição à volatilidade cambial deve ser limitada e focada principalmente em proteção. Uma sugestão de alocação poderia incluir:

  • 60-70% em renda fixa doméstica (Tesouro Direto, CDBs, LCIs, LCAs)
  • 10-15% em fundos cambiais ou ETFs de renda fixa internacional
  • 10-15% em ações de empresas exportadoras brasileiras
  • 5-10% em ouro ou fundos de ouro (tradicionalmente considerado um ativo de proteção)

Para um investidor moderado, a alocação poderia ser mais equilibrada:

  • 40-50% em renda fixa doméstica
  • 15-20% em fundos cambiais ou ETFs internacionais
  • 15-20% em ações brasileiras, com ênfase em exportadoras
  • 10-15% em BDRs ou investimentos diretos no exterior
  • 5-10% em ativos alternativos (como fundos imobiliários)

Já para um investidor arrojado, a exposição internacional e a busca por oportunidades podem ser mais pronunciadas:

  • 20-30% em renda fixa doméstica
  • 20-25% em ações brasileiras, com foco em setores beneficiados pela alta do dólar
  • 25-30% em investimentos internacionais diretos ou via BDRs
  • 10-15% em fundos multimercado com estratégias de hedge cambial
  • 5-10% em ativos alternativos ou estratégias mais sofisticadas

A importância do rebalanceamento e do horizonte de investimento

Um aspecto frequentemente negligenciado na gestão de carteiras em cenários de volatilidade é o rebalanceamento periódico. À medida que o câmbio oscila, a proporção de ativos na carteira pode se alterar significativamente. Por exemplo, em períodos de forte valorização do dólar, a parcela de ativos internacionais tende a crescer além do planejado, aumentando a exposição ao risco cambial.

O horizonte de investimento também é crucial nessa equação. Para objetivos de curto prazo, a proteção contra a volatilidade cambial deve ser mais rigorosa, possivelmente incluindo estratégias de hedge. Para objetivos de longo prazo, a volatilidade de curto prazo tende a ser menos relevante, permitindo uma abordagem mais focada em crescimento.

Segundo especialistas do mercado financeiro citados pelo Sicredi Pantanal MS em fevereiro de 2025, a recomendação para quem planeja investir em ativos dolarizados é diversificar a compra ao longo do tempo e manter um planejamento financeiro sólido. Essa estratégia de compra gradual ajuda a diluir os riscos da volatilidade cambial.

A volatilidade cambial, embora desafiadora, não deve ser vista apenas como uma ameaça, mas também como uma oportunidade para investidores bem preparados. As estratégias apresentadas neste artigo – desde investimentos dolarizados e ações de empresas exportadoras até a diversificação internacional – oferecem caminhos para navegar por esse cenário complexo.

É fundamental lembrar que não existe uma fórmula única que funcione para todos. A melhor estratégia dependerá sempre do perfil de risco, dos objetivos financeiros e do horizonte de investimento de cada pessoa. Como observou Isabela Bessa, economista especialista em investimentos offshore da Warren Investimentos, “não se sabe para onde o dólar vai. Então, a melhor estratégia para se beneficiar de todos esses movimentos é a construção de um preço médio”, distribuindo os investimentos ao longo do tempo.

Em um mundo cada vez mais interconectado, compreender e adaptar-se à volatilidade cambial tornou-se uma habilidade essencial para investidores que buscam não apenas proteger seu patrimônio, mas também construir riqueza de forma consistente no longo prazo. Com conhecimento, planejamento e disciplina, é possível transformar os desafios da volatilidade em oportunidades de crescimento financeiro.

Fontes e referências

Valor Econômico, “Volatilidade baixa traz prejuízo para traders com hedge cambial”, julho/2023
InfoMoney, “Dólar a R$ 5,50: como proteger o patrimônio em meio à disparada”, julho/2024
Sicredi Pantanal MS, “Confira algumas dicas como investir com as variações do dólar”, fevereiro/2025
E-Investidor (Estadão), “Como proteger seus investimentos da alta do dólar?”, julho/2024
Royal Partner, “Como Proteger Seus Investimentos Contra a Volatilidade do Câmbio”, 2024
Suno Research, “4 ações para investir e aproveitar a alta do dólar”, janeiro/2025
Exame, “Onde investir? Veja quem ganha e (quem perde) com a desvalorização do real”, junho/2024
Blog Daycoval, “Entenda o que é o fundo cambial e suas vantagens”, setembro/2024

DISCLAIMER: As informações contidas neste artigo são de caráter informativo e educacional, elaboradas por profissional certificado como Assessor de Investimentos pela ANCORD, em conformidade com as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O conteúdo apresentado reflete análises e opiniões fundamentadas em dados públicos e estudos de mercado, não constituindo oferta, solicitação, sugestão ou recomendação específica de investimento.
Cada investidor deve realizar sua própria análise de risco e consultar seu assessor de investimentos para avaliação personalizada antes de tomar qualquer decisão.
Investimentos envolvem riscos e podem resultar em perdas patrimoniais. Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros. Os investidores devem estar cientes de que qualquer tipo de investimento contém riscos e não há garantia de retorno ou proteção contra perdas.
Este material não substitui o relacionamento cliente-assessor e as recomendações personalizadas que devem ser feitas considerando o perfil de risco, objetivos e situação financeira individual de cada investidor.
Para informações específicas sobre produtos de investimento, consulte seu assessor de investimentos ou a instituição financeira de sua preferência.

Luiz Eduardo Correa Pinto

Assessor de Investimentos Associado na BLUE3 | XP Investimentos, com mais de duas décadas de experiência em liderança comercial e especialização no setor financeiro. Expertise consolidada em soluções de investimentos, planejamento patrimonial e sucessório para pessoas físicas e jurídicas. Sólida trajetória na Indústria de Pagamentos, incluindo POS, API, câmbio e soluções SAAS. Experiência multicultural em negociações complexas e gestão de relacionamentos estratégicos.

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