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O varejo brasileiro em 2025: navegando entre oportunidades e incertezas

O setor varejista brasileiro tem demonstrado notável resiliência nos últimos anos, superando desafios significativos e adaptando-se a um cenário econômico em constante transformação. Após um 2024 marcado por um crescimento expressivo de 4,7% – o maior em 12 anos segundo dados do IBGE – o varejo nacional enfrenta agora um 2025 repleto de desafios e oportunidades. Neste cenário de transição, empresas como o Magazine Luiza destacam-se com movimentos estratégicos que chamam a atenção do mercado, como a recente proposta de distribuição de R$ 225 milhões em dividendos intermediários. Este artigo analisa o panorama atual do varejo brasileiro, explorando os fatores que impulsionam o consumo, as tendências emergentes e as perspectivas para os próximos meses, oferecendo uma análise geral para compreender as dinâmicas deste setor fundamental da economia nacional.

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O cenário atual do varejo brasileiro: entre avanços e cautela

O varejo brasileiro encerrou 2024 com um desempenho notável, registrando crescimento de 4,7% em relação ao ano anterior – o melhor resultado desde 2012, quando o setor avançou 8,4%, conforme dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE. Este desempenho foi impulsionado principalmente por segmentos como artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, que cresceram impressionantes 14,2%, e veículos e motos, partes e peças, com alta de 11,7%. Outros setores como artigos de uso pessoal e doméstico (7,1%), material de construção (4,7%) e hiper e supermercados (4,6%) também apresentaram resultados positivos.

Entrando em 2025, o setor mantém um ritmo de crescimento, embora mais moderado. Dados recentes do IBGE mostram que, em fevereiro de 2025, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 0,5% frente a janeiro, na série com ajuste sazonal, superando a variação de 0,2% registrada no mês anterior. Este crescimento levou o índice da base fixa do indicador de volume da margem a atingir o máximo da série histórica, superando em 0,3% o nível recorde anterior, observado em outubro de 2024.

Na análise por segmentos, quatro das oito atividades avançaram em relação a janeiro: Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,1%), Móveis e eletrodomésticos (0,9%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,3%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,1%). Por outro lado, setores como Livros, jornais, revistas e papelaria (-7,8%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,2%) apresentaram quedas significativas.

No entanto, as projeções para 2025 apontam para uma desaceleração no ritmo de crescimento. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), espera-se um crescimento entre 1,7% e 2% para o varejo brasileiro neste ano, bem abaixo do desempenho de 2024. Esta moderação é atribuída a diversos fatores econômicos, incluindo o aumento da taxa Selic, que atualmente está em 13,25% e, segundo projeções do Boletim Focus, pode chegar a 15% até o final de 2025.

O Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) e a FIA Business School projetam um cenário um pouco mais otimista para o primeiro trimestre de 2025, com uma elevação de 3,42% no consumo em comparação com o mesmo período de 2024. No entanto, esta projeção varia significativamente entre os segmentos, com alguns enfrentando estagnação ou até mesmo retrocesso nas vendas.

Um caso emblemático deste cenário misto é o Magazine Luiza (MGLU3), uma das principais varejistas do país. A empresa encerrou 2024 com lucro líquido recorrente de R$ 139 milhões no quarto trimestre, representando um crescimento de 37% em relação ao mesmo período de 2023 – o quinto trimestre consecutivo da companhia no azul. Este desempenho positivo levou o conselho de administração da varejista a aprovar a proposta de distribuição de R$ 225 milhões em dividendos intermediários, que será submetida à votação dos acionistas em assembleia geral extraordinária marcada para 24 de abril.

Como resultado destes movimentos, as ações do Magazine Luiza apresentaram uma valorização expressiva de 68% no acumulado do ano até março de 2025, refletindo a confiança dos investidores na recuperação da empresa. Em 25 de março, as ações operavam em alta de 4,11%, impulsionadas pela notícia sobre os dividendos.

No entanto, analistas do mercado financeiro consideram o resultado da empresa como misto. Apesar dos ganhos, o balanço pode indicar um pontapé inicial para a desaceleração da companhia ao longo de 2025. Para João Daronco, analista da Suno Research, o desempenho do Magazine Luiza em 2025 está atrelado a diversos fatores, principalmente ao desempenho macroeconômico do Brasil, visto que existe uma dependência econômica bastante forte da ação MGLU3.

Caroline Sanchez, da Levante, afirma que o Magazine Luiza segue em trajetória de recuperação em 2025, mas aponta que essa evolução tende a levar um tempo maior que o esperado, justamente por causa do ciclo de alta de juros e também por questões internas da empresa, devido à concorrência mais acirrada.

Fatores que impulsionam e desafiam o consumo em 2025

Diversos fatores estão moldando o comportamento do consumo no varejo brasileiro em 2025, criando um cenário complexo de oportunidades e desafios para o setor.

Fatores positivos

1. Recuperação do emprego e renda

Apesar das incertezas econômicas, o mercado de trabalho brasileiro tem mostrado sinais de resiliência, o que contribui para sustentar o consumo. Segundo a CNC, entre os fatores que impulsionaram o crescimento do varejo em 2024 estão o aumento do emprego formal, maior acesso das pessoas ao crédito e a renda. Esta base sólida continua a exercer influência positiva no início de 2025, embora com expectativa de desaceleração ao longo do ano.

2. Evolução do comércio eletrônico

O e-commerce brasileiro continua a crescer a um ritmo superior ao do varejo físico, mesmo após o boom observado durante a pandemia. Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), em 2023, o faturamento do e-commerce no Brasil foi de R$ 185,7 bilhões, com um ticket médio de R$ 470,00. Esta tendência persiste em 2025, com as empresas investindo cada vez mais na integração entre canais físicos e digitais.

3. Datas comemorativas

Eventos sazonais como o Dia das Mães e o Natal continuam sendo grandes impulsionadores do varejo. Segundo a Visa Consulting & Analytics, as vendas de fim de ano em 2024 cresceram 3,4% em relação a 2023, com supermercados, farmácias e lojas de eletrodomésticos liderando o desempenho. Esta sazonalidade positiva deve se manter em 2025, oferecendo oportunidades estratégicas para o setor.

Fatores desafiadores

1. Alta da taxa de juros

O aumento da taxa Selic representa uma preocupação central para o varejo brasileiro em 2025. Atualmente em 14,25%, as projeções indicam que a taxa básica de juros pode chegar a 15% até o final do ano, encarecendo o crédito e reduzindo o poder de compra dos consumidores. Segundo Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, “o ano de 2025 deve ser difícil especialmente para o varejo que trabalha com itens de maior valor e que acabam usando mais do parcelamento ou financiamento como por exemplo itens da linha branca e veículos.”

2. Endividamento das famílias

O alto nível de endividamento das famílias brasileiras continua sendo um obstáculo significativo para o crescimento do consumo. Dados mostram que o endividamento ainda está elevado, o que leva muitas famílias a cortar o consumo, especialmente de bens duráveis e de maior valor.

3. Desvalorização do Real

A desvalorização do real, que acumulou uma queda de 21,82% em 2024, atingindo 6,18 reais por dólar, adiciona um componente de incerteza para 2025. A moeda mais fraca encarece os produtos importados e pode pressionar ainda mais a inflação, afetando o poder de compra dos consumidores.

Tendências emergentes e estratégias para o varejo em 2025

Em meio aos desafios econômicos, o varejo brasileiro está se transformando e adotando novas estratégias para manter a competitividade e atender às mudanças no comportamento do consumidor.

Inteligência artificial e análise de dados

A IA está se tornando cada vez mais presente no varejo brasileiro, sendo utilizada para previsão de demanda, gestão de estoque, precificação dinâmica e personalização da experiência do cliente. Em 2025, espera-se que o uso de chatbots, assistentes virtuais e automação de atendimento esteja ainda mais avançado, reduzindo custos e otimizando a experiência do consumidor.

A análise de dados também ganha destaque, permitindo que os varejistas compreendam melhor o comportamento do consumidor e tomem decisões mais informadas. No entanto, esta tendência vem acompanhada de desafios relacionados à privacidade dos dados, exigindo que as empresas equilibrem a coleta de informações com a proteção da privacidade do consumidor.

Omnichannel e comércio unificado

A integração entre canais físicos e digitais continua sendo uma prioridade para o varejo brasileiro em 2025. O conceito de comércio unificado, que vai além do omnichannel tradicional, busca proporcionar uma experiência de compra perfeita e consistente, independentemente do canal utilizado pelo consumidor.

Tecnologias como realidade virtual, realidade aumentada e metaverso estão sendo incorporadas para enriquecer esta experiência integrada. As mídias sociais também estão se consolidando como verdadeiros centros de compras, exigindo que os varejistas se adaptem rapidamente a este novo paradigma.

Foco em saúde preventiva e sustentabilidade

Segundo a Euromonitor International, em 2025, o varejo global continuará lidando com um consumidor que procura ser mais inteligente nas suas compras, baseado na preocupação com os acontecimentos mundiais e com os efeitos da inflação. No Brasil, especificamente, observa-se uma crescente demanda por soluções de saúde preventiva e produtos sustentáveis.

Paula Goñi, consultora sênior de serviços e pagamentos na Euromonitor International, aponta que “o ano de 2025 deve ser um ano de recuperação contínua, com os varejistas buscando planos reativos que talvez tenham sido pausados nos últimos dois anos, esperando que a perspectiva econômica se estabilize e a confiança do consumidor aumente.”

Tabela: Projeção de crescimento do varejo por segmento em 2025

SegmentoProjeção de Crescimento (%)
Artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria4,4
Material de construção6,7
Móveis e eletrodomésticos6,9
Hiper e supermercados1,2
Tecidos, vestuário e calçados5,3
Livros, jornais e papelaria-2,9
Equipamentos de informática e comunicação-0,5
Combustíveis e lubrificantes1,4
Veículos, motos, partes e peças9,5
Atacadistas-5,36

Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar)

O varejo brasileiro em 2025 navega em um cenário de contrastes: por um lado, carrega o impulso do forte crescimento observado em 2024; por outro, enfrenta desafios significativos como a alta dos juros, o endividamento das famílias e a desvalorização do real. Neste contexto, empresas como o Magazine Luiza exemplificam a resiliência do setor, apresentando resultados positivos mesmo em meio às adversidades.

As projeções para o ano apontam para uma desaceleração no ritmo de crescimento, com estimativas variando entre 1,7% e 3,42%, dependendo do segmento e do período analisado. No entanto, esta moderação não significa estagnação, mas sim um ajuste às novas realidades econômicas e comportamentais.

Para navegar com sucesso neste cenário desafiador, os varejistas precisam estar atentos às tendências emergentes, como a adoção de inteligência artificial, a integração entre canais físicos e digitais, e a crescente demanda por produtos relacionados à saúde preventiva e sustentabilidade. Aqueles que conseguirem adaptar suas estratégias a estas novas realidades estarão melhor posicionados para capturar as oportunidades que surgirão ao longo do ano.

Fontes e referências

IBGE, Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), abril 2025
Confederação Nacional do Comércio (CNC), fevereiro 2025
Magazine Luiza, Relatório Financeiro 4T24, março 2025
Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), abril 2025
Euromonitor International, Top global consumer trends 2025, janeiro 2025
Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), Relatório 2023
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), fevereiro 2025
Visa Consulting & Analytics, Relatório de Vendas de Fim de Ano, janeiro 2025

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Luiz Eduardo Correa Pinto

Assessor de Investimentos Associado na BLUE3 | XP Investimentos, com mais de duas décadas de experiência em liderança comercial e especialização no setor financeiro. Expertise consolidada em soluções de investimentos, planejamento patrimonial e sucessório para pessoas físicas e jurídicas. Sólida trajetória na Indústria de Pagamentos, incluindo POS, API, câmbio e soluções SAAS. Experiência multicultural em negociações complexas e gestão de relacionamentos estratégicos.

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