O cenário de investimentos no Brasil passou por transformações marcantes nos últimos anos, impulsionado por mudanças econômicas, avanços tecnológicos e, principalmente, pela necessidade crescente de buscar segurança e rentabilidade em meio a incertezas. Em 2024, a oitava edição do Raio X do Investidor Brasileiro, pesquisa conduzida pela ANBIMA em parceria com o Datafolha, trouxe uma inovação fundamental: a segmentação da população em quatro perfis distintos de comportamento financeiro. Essa nova abordagem permite compreender com mais profundidade os hábitos, desafios e motivações dos brasileiros quando o assunto é poupar e investir.

Segundo o levantamento, cerca de 59 milhões de brasileiros declararam ter investimentos financeiros em 2024, mantendo estável o percentual de 37% da população. No entanto, a pesquisa revela que economizar não significa necessariamente investir: apenas um terço da população conseguiu poupar, e menos da metade desses poupadores direcionou recursos para produtos financeiros. O restante ainda mantém o dinheiro parado ou sequer consegue formar uma reserva.
Neste artigo, analiso cada um dos quatro perfis identificados pela ANBIMA: Sem Reservas, Economiza e Não Investe, Caderneta e Diversifica. Entender essas categorias é essencial para traçar estratégias personalizadas e promover educação financeira eficaz, especialmente para quem busca construir patrimônio e segurança no longo prazo.
A nova segmentação do investidor brasileiro
A pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro 2024 representa um marco ao dividir a população em quatro grandes perfis, cada um com características, desafios e oportunidades distintas. Essa segmentação não apenas facilita o entendimento do comportamento financeiro nacional, mas também orienta a criação de soluções e conteúdos mais assertivos para cada público.
Perfil “Sem Reservas”: o retrato da vulnerabilidade financeira
O grupo Sem Reservas corresponde a 52% da população brasileira, sendo o maior segmento identificado. Trata-se de pessoas que, por diferentes razões, não conseguem economizar nem investir. Esse perfil é predominante entre as classes C, D e E, com média de idade de 45 anos e alto índice de estresse financeiro. A maioria relata dificuldades para manter as contas em dia, ausência de reserva de emergência e preocupação constante com imprevistos.
Segundo a ANBIMA, mais da metade dos brasileiros enfrenta níveis elevados de estresse financeiro. Em 2024, 51% atribuíram notas entre 8 e 10 para preocupações relacionadas a despesas e falta de dinheiro. O índice é ainda maior nas classes D/E, chegando a 62%. Entre os Sem Reservas, 61% afirmam sentir-se pressionados pelos gastos, 54% têm dificuldades para dormir devido à ansiedade financeira e 44% relatam conflitos familiares por questões de dinheiro.
As principais causas desse cenário são a perda de renda, despesas superiores aos ganhos e falta de acesso à educação financeira. Apesar disso, 85% dos brasileiros afirmam que tentam cuidar bem das finanças e 74% evitam gastos desnecessários, indicando uma consciência, mas não necessariamente uma capacidade de ação efetiva.
Perfil “Economiza e Não Investe”: o potencial latente
O segundo grupo, Economiza e Não Investe, representa 12% da população. São pessoas que conseguem poupar, mas não aplicam o dinheiro em produtos financeiros, preferindo mantê-lo guardado em casa ou em contas correntes, sem rendimento. Esse perfil é o mais jovem, com média de idade de 34 anos, e apresenta o menor nível de estresse financeiro entre os quatro grupos.
A principal característica desse segmento é a cautela. Muitos têm receio de perder dinheiro, desconhecem as opções de investimento ou simplesmente não confiam no sistema financeiro. Para eles, a segurança está em manter o controle total sobre o dinheiro, mesmo que isso signifique abrir mão de ganhos potenciais.
Esse grupo é estratégico para o crescimento do mercado de investimentos no Brasil. Segundo a ANBIMA, existe um potencial de 32 milhões de novos investidores que ainda não foi convertido. Entre os que pretendem começar a investir, a principal motivação é a busca por segurança financeira (48%), seguida por objetivos de consumo (30%) e uso em negócios próprios (7%).
Perfil “Caderneta”: a tradição da Poupança
O terceiro perfil, chamado Caderneta, reúne 20% da população que investe exclusivamente na poupança. Predominantemente formado por mulheres, com média de idade de 48 anos, esse grupo valoriza a simplicidade, liquidez e segurança da caderneta de poupança, mesmo diante de alternativas mais rentáveis.
A poupança permanece como o principal destino dos recursos financeiros para 26% dos brasileiros, especialmente na classe C, com renda média de R$ 4.400. A tradição familiar, o desconhecimento de outros produtos e a aversão ao risco explicam a preferência. Apesar da baixa rentabilidade, a poupança oferece fácil acesso e não exige conhecimento técnico, fatores que pesam na decisão desse público.
Perfil “Diversifica”: o investidor moderno
Por fim, o perfil Diversifica abrange 17% da população, composto por investidores que aplicam recursos em mais de um produto financeiro. Esse grupo é majoritariamente masculino, pertence às classes A e B, concentra-se no Sudeste e possui maior escolaridade. São pessoas que buscam diversificação, proteção contra riscos e melhores oportunidades de rentabilidade.
Os Diversifica utilizam bancos digitais e plataformas de investimento, acompanham notícias do mercado e estão atentos às tendências. Segundo a pesquisa, 91% dos investidores brasileiros buscam informações antes de investir, seja com gerentes, assessores, amigos ou em canais digitais. O uso de aplicativos bancários para investir cresceu quatro pontos percentuais em relação a 2023, atingindo 49% dos entrevistados, enquanto a visita a agências físicas recuou para 33%.
Esse público valoriza a autonomia e a personalização das carteiras. Entre os principais objetivos estão a construção de patrimônio, aposentadoria e geração de renda passiva. O acesso à informação e a consultoria especializada são diferenciais para esse grupo, que já compreende a importância de alinhar investimentos ao perfil de risco e aos objetivos de vida.
Tabela: distribuição dos perfis do investidor brasileiro em 2024
Perfil | % da População | Faixa Etária Média | Classe Social Predominante | Gênero Predominante | Característica Principal |
Sem Reservas | 52% | 45 anos | C/D/E | Ambos | Não economiza nem investe |
Economiza e Não Investe | 12% | 34 anos | C/B | Ambos | Poupa, mas não investe |
Caderneta | 20% | 48 anos | C | Maioria mulheres | Investe só na poupança |
Diversifica | 17% | 40 anos | A/B | Maioria homens | Investe em vários produtos |
Fonte: ANBIMA/Datafolha, Raio X do Investidor Brasileiro 2024
Tendências e implicações para o mercado
A segmentação proposta pela ANBIMA revela que o Brasil ainda enfrenta grandes desafios de inclusão financeira. Mais da metade da população não consegue formar reservas, enquanto apenas 17% diversificam investimentos. A educação financeira surge como elemento-chave para transformar esse cenário, especialmente entre os grupos Sem Reservas e Economiza e Não Investe.
Outro ponto relevante é o papel crescente dos canais digitais. Aplicativos de bancos e plataformas online já são o principal meio de acesso a investimentos para 49% dos brasileiros, especialmente nas classes A/B e C. Em contrapartida, a classe D/E ainda prefere o atendimento presencial em agências, evidenciando a necessidade de estratégias multicanais para atingir diferentes públicos.
A pesquisa também destaca a importância do assessoramento profissional. Investidores que contam com orientação especializada tendem a diversificar mais e a apresentar menor nível de estresse financeiro. Esse dado reforça o valor do trabalho consultivo e da construção de relações de confiança no mercado financeiro.
A oitava edição do Raio X do Investidor Brasileiro, ao segmentar a população em quatro perfis, oferece um retrato preciso dos desafios e oportunidades do mercado financeiro nacional. A maioria dos brasileiros ainda lida com dificuldades para poupar e investir, reflexo de fatores econômicos, culturais e de acesso à informação. Por outro lado, cresce o número de pessoas que buscam diversificação, autonomia e orientação profissional para alcançar objetivos financeiros de longo prazo.
Compreender esses perfis é fundamental para quem deseja construir estratégias de investimento eficazes e promover a inclusão financeira. O caminho para a transformação passa pela educação, pelo acesso a produtos adequados e pelo fortalecimento da relação entre investidores e profissionais qualificados. Ao reconhecer as necessidades e características de cada grupo, é possível criar soluções personalizadas, ampliar o alcance da cultura de investimentos e contribuir para o desenvolvimento econômico do país.
Se você deseja se aprofundar ainda mais nos dados e análises apresentados neste artigo, pode acessar gratuitamente o relatório completo do Raio X do Investidor Brasileiro 2024, elaborado pela ANBIMA em parceria com o Datafolha. O material traz informações detalhadas sobre o comportamento financeiro da população, segmentações inéditas, gráficos e tabelas exclusivas. Para baixar o estudo na íntegra, basta acessar o link oficial:
Fontes e referências
ANBIMA/Datafolha, Raio X do Investidor Brasileiro 8ª Edição, janeiro de 2025
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