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Dólar em 2025: entendendo a montanha-russa do câmbio e o que esperar para o futuro

O mercado de câmbio brasileiro tem vivido momentos de intensa volatilidade nos últimos meses. Após encerrar 2024 próximo dos R$ 6,30, o dólar iniciou uma trajetória de queda no primeiro trimestre de 2025, recuando para patamares abaixo de R$ 5,80. Esta oscilação vai muito além de um número no noticiário econômico – ela afeta diretamente a inflação, os juros, o poder de compra das famílias e a competitividade das empresas brasileiras. Para compreender esse movimento e suas perspectivas futuras, precisamos analisar tanto fatores domésticos quanto externos que influenciam a taxa de câmbio. Neste artigo, busquei apresentar as causas da recente valorização do real, avaliar as projeções dos principais bancos e consultorias para o restante do ano, e entender como a guerra comercial entre EUA e China pode impactar nossa moeda.

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A reviravolta do Real no primeiro trimestre

O dólar à vista encerrou março com queda diária de 0,98%, cotado a R$ 5,7053, acumulando desvalorização de 3,55% no mês. No primeiro trimestre de 2025, o dólar Ptax (taxa de referência do Banco Central) caiu 7,27%, de R$ 6,1923 para R$ 5,7422, representando o melhor desempenho trimestral do real desde o primeiro trimestre de 2022, quando o Ptax cedeu 15,10%.

Essa recuperação do real surpreendeu muitos analistas, especialmente considerando que o dólar havia se desvalorizado cerca de 25% em 2024. Mas o que explica essa reviravolta?

Segundo estudos do departamento econômico do Bradesco, divulgados em fevereiro, pouco mais de 80% da valorização do real neste ano foi impulsionada por fatores domésticos. A maior contribuição veio da redução do Credit Default Swap (CDS), um seguro contra risco de calote que serve como termômetro do risco-país.

Entre os fatores internos que contribuíram para a valorização do real, destacam-se:

  1. Elevação da taxa Selic: O aumento da taxa básica de juros para 14,25% ao ano ampliou o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA. Como explica Luiz Arthur Fioreze, diretor de gestão de fundos da Oryx Capital, “juros mais altos tendem a atrair investimentos estrangeiros em busca de rendimentos mais elevados, aumentando a entrada de dólares no país e contribuindo para a valorização do real”.
  2. Intervenções do Banco Central: A realização de dois leilões de linha com valor total de US$ 4 bilhões ajudou a estabilizar a tendência do câmbio em meio à volatilidade no exterior.
  3. Fluxo estrangeiro positivo: Até o dia 27 de março, o fluxo estrangeiro no país estava positivo em R$ 5,5 bilhões, demonstrando o apetite dos investidores internacionais por ativos brasileiros, apesar do ambiente de volatilidade nos mercados globais.

No cenário externo, a posse de Donald Trump e sua política comercial menos agressiva do que o esperado inicialmente também contribuíram para a desvalorização global do dólar. Como observa Samuel Pessoa, economista e pesquisador da FGV-Ibre, a eleição de Trump foi responsável por cerca de 80% da desvalorização da moeda americana no início do ano.

A tabela abaixo resume o comportamento do dólar nos primeiros meses de 2025:

MêsVariação do DólarCotação Final
Janeiro-5,45%R$ 5,84
Fevereiro+0,76%R$ 5,88
Março-3,55%R$ 5,70
Acumulado-8,24%

Projeções para o dólar em 2025: o que dizem os especialistas

Com o dólar operando abaixo de R$ 5,80, o mercado começa a revisar suas projeções para o câmbio ao final de 2025. A mediana do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central em 31 de março, aponta para um dólar a R$ 5,92 no final do ano – uma redução em relação à projeção de R$ 6,00 feita um mês antes.

No entanto, as projeções variam significativamente entre as instituições financeiras:

  • O Itaú BBA reduziu sua projeção para o dólar em 2025 de R$ 5,90 para R$ 5,75, citando uma tendência global de enfraquecimento da moeda americana em meio às tarifas de Trump.
  • O BTG Pactual revisou sua estimativa de R$ 6,25 para R$ 6,00, destacando que quedas adicionais no câmbio dependerão da melhora das incertezas domésticas ligadas à questão fiscal.
  • O UBS BB cortou sua projeção de R$ 6,00 para R$ 5,80.
  • O Santander Brasil, em relatório divulgado em 4 de abril, reduziu sua projeção para a taxa de câmbio de 2025 de R$ 6,00 para R$ 5,90.
  • A XP Investimentos mantém uma visão mais pessimista, com projeção de R$ 6,00 para o final do ano.

Em um cenário mais extremo, o BTG Pactual alerta que o dólar poderia ultrapassar a barreira de R$ 7,00 caso o governo intensifique mecanismos parafiscais, mine a credibilidade da política monetária ou intervenha no mercado cambial. Por outro lado, um choque de ajuste fiscal poderia derrubar a moeda para os R$ 5,20.

O Goldman Sachs, em relatório divulgado em fevereiro, apontou que o real está com uma valorização cerca de 10% abaixo do que seria considerado “justo” pelo modelo do banco, sugerindo que a moeda brasileira tem espaço para se valorizar ainda mais. No entanto, o banco americano ressalta que, para desbloquear essa alta de forma sustentada, é necessária “uma articulação clara e um compromisso com a âncora fiscal no médio prazo”.

O Impacto da guerra comercial e outros fatores externos

O mês de abril marca os 100 primeiros dias do segundo mandato de Trump e trouxe as prometidas tarifas sobre importações nos EUA. O Brasil figura entre os países menos afetados, com taxação de 10% sobre seus produtos, enquanto a China, por exemplo, foi sobretaxada em 34% e retaliou aplicando tarifas de mesma magnitude sobre produtos americanos.

Essa guerra comercial pode afetar o câmbio brasileiro de diferentes maneiras:

  1. Efeito inflacionário nos EUA: Segundo o Peterson Institute of International Economics, somente as tarifas de Trump sobre México, Canadá e China vão levar a um custo de US$ 1.200 por ano às famílias americanas, o que significa cerca de alta de 3% na inflação dos EUA. Isso pode pressionar o Federal Reserve (Fed) a elevar os juros, fortalecendo o dólar globalmente.
  2. Impacto setorial desigual na economia brasileira: Um estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais constatou que o Brasil deve ver um aumento das exportações agrícolas em cerca de US$ 4,8 bilhões, principalmente por conta do avanço da soja. Com a aplicação das tarifas da China sobre os produtos americanos, alguns setores serão deslocados, sendo substituídos prioritariamente pelo Brasil. Por outro lado, a indústria brasileira pode sofrer com a guerra comercial, com risco real de desindustrialização.
  3. Volatilidade nos mercados globais: A guerra comercial fez os mercados desabarem e até o Federal Reserve Bank alertou que o impacto seria sentido na taxa de crescimento da economia americana, o que pode gerar maior aversão ao risco e prejudicar moedas emergentes como o real.

Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, explica que a continuidade do movimento mais positivo para o real dependerá da evolução dos dados econômicos nos EUA e das políticas comerciais da nova administração americana. “Algumas tarifas estão previstas para começarem a valer neste mês e com elas em prática é que poderemos avaliar como impactará diretamente no mercado cambial”, afirma.

Desafios domésticos e perspectivas futuras

Apesar da recente valorização do real, persistem desafios significativos no cenário doméstico que podem limitar uma apreciação mais sustentada da moeda brasileira:

  1. Questão fiscal: A manutenção de juros em patamares elevados aumenta o custo da dívida pública, o que joga contra o país em um momento de desconfiança em relação ao fiscal. Como alerta Luiz Arthur Fioreze, da Oryx Capital, “sem medidas efetivas de controle fiscal e redução do déficit público, a sustentabilidade da valorização do real é questionável”.
  2. Inflação e política monetária: O Copom informou, em sua última reunião, que a economia brasileira está aquecida, apesar de sinais de moderação na expansão. A inflação cheia e os núcleos continuam em alta, com risco de que a inflação de serviços continue elevada. A expectativa do mercado, segundo o Boletim Focus de 31 de março, é de que a Selic chegue a 15% ao ano até o final de 2025, o que pode ajudar a conter a depreciação do real, mas não necessariamente provocar uma apreciação significativa.
  3. Crescimento econômico: A previsão do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2025 foi reduzida de 1,98% para 1,97%, segundo o Boletim Focus. Um crescimento mais fraco pode reduzir o apetite dos investidores por ativos brasileiros.
  4. Fluxo cambial: Há dúvidas sobre a continuidade do fluxo cambial positivo. Dados consolidados do Banco Central até meados de março mostram que o fluxo total em 2025 é negativo em mais de US$ 10 bilhões, com saída líquida de mais de US$ 13 bilhões no segmento financeiro. As entradas do lado comercial ficaram abaixo do volume tradicional para os primeiros meses do ano.

O comportamento do dólar em 2025 continuará sendo influenciado por uma complexa interação de fatores domésticos e externos. A recente valorização do real, que levou o dólar de R$ 6,30 no final de 2024 para menos de R$ 5,80 no primeiro trimestre de 2025, reflete tanto o diferencial de juros favorável ao Brasil quanto uma tendência global de enfraquecimento do dólar.

No entanto, as perspectivas para o restante do ano são incertas. A guerra comercial entre EUA e China, as preocupações com a situação fiscal brasileira e a política monetária do Federal Reserve são fatores que podem trazer volatilidade adicional ao câmbio. A maioria das projeções aponta para um dólar entre R$ 5,75 e R$ 6,00 no final de 2025, mas com riscos tanto para cima quanto para baixo.

Para investidores e empresas, o cenário exige cautela e diversificação. A exposição ao câmbio deve ser gerenciada de forma estratégica, considerando tanto os riscos quanto as oportunidades que a volatilidade pode trazer. E, como sempre, a melhor proteção contra a incerteza é um planejamento financeiro sólido e de longo prazo.

Fontes e referências:

Estadão – Dólar cai 3,5% em março e mercado começa a revisar projeções (31/03/2025) – https://einvestidor.estadao.com.br/investimentos/dolar-cai-em-marco-o-que-esperar-para-abril/

Agência Brasil – Mercado reduz previsão para expansão da economia em 2025 (31/03/2025) – https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-03/mercado-reduz-previsao-para-expansao-da-economia-em-2025

CNN Brasil – Dólar recua no 1º tri, mas incertezas podem limitar valorização do real (05/04/2025) – https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/tarifaco-fluxo-e-ruidos-fiscais-impoem-barreira-a-nova-rodada-de-apreciacao-do-real/

UOL Economia – Por que o dólar está ficando mais barato (05/02/2025) – https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/02/05/de-r-616-a-r-577-o-que-fez-o-dolar-desvalorizar-mais-de-6-este-ano.htm

XP Investimentos – Dólar em queda: a tendência veio para ficar? (18/03/2025) – https://conteudos.xpi.com.br/economia/dolar-em-queda-a-tendencia-veio-para-ficar-o-que-esperar-para-a-taxa-de-cambio/

UOL – Guerra comercial gera ganhos para agro e perdas para indústria brasileira (05/04/2025) – https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/04/05/guerra-comercial-gera-ganhos-para-agro-e-perdas-para-industria-brasileira.htm

CNN Brasil – Tarifas de Trump podem afetar a inflação no Brasil? (03/04/2025) – https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/tarifaco-de-trump-americanos-vao-gastar-us-2-100-a-mais-por-ano/

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Luiz Eduardo Correa Pinto

Assessor de Investimentos Associado na BLUE3 | XP Investimentos, com mais de duas décadas de experiência em liderança comercial e especialização no setor financeiro. Expertise consolidada em soluções de investimentos, planejamento patrimonial e sucessório para pessoas físicas e jurídicas. Sólida trajetória na Indústria de Pagamentos, incluindo POS, API, câmbio e soluções SAAS. Experiência multicultural em negociações complexas e gestão de relacionamentos estratégicos.

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