O mercado acionário brasileiro atingiu um marco importante em abril de 2025. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou o pregão do dia 28 de abril aos 135.015,89 pontos, com alta de 0,21%, consolidando sua sexta alta consecutiva. Este patamar representa o maior nível desde setembro de 2024, quando o índice atingiu seu recorde histórico. O movimento ocorre em um cenário de cautela dos investidores ante os desdobramentos econômicos globais, mas com sinais positivos no ambiente doméstico que têm impulsionado os ativos brasileiros. A recuperação das ações nacionais acontece em meio a um momento de tensões comerciais internacionais, especialmente entre Estados Unidos e China, e expectativas sobre as decisões de política monetária tanto no Brasil quanto nos EUA. O presente artigo busca analisar o que representa esse patamar para o mercado e o que podemos esperar nos próximos meses considerando o contexto atual.

Os fatores por trás da recuperação do Ibovespa
A recente sequência de seis altas consecutivas do Ibovespa não aconteceu por acaso. Diversos fatores convergiram para impulsionar o principal índice da bolsa brasileira até o patamar de 135 mil pontos, nível que não era visto desde setembro de 2024. Na máxima intradiária do dia 28 de abril, o índice chegou a tocar os 135.709,27 pontos, refletindo um otimismo cauteloso dos investidores em relação ao mercado brasileiro.
Um dos elementos que contribuiu significativamente para essa recuperação foi a perspectiva de que o ciclo de alta da taxa Selic está próximo do fim. Conforme destacado por Bruna Sene, analista da Rico, “a percepção de que o fim do ciclo de alta da Selic está próximo ajuda algumas ações cíclicas que estavam bastante descontadas”. Essa perspectiva tem atraído investidores para ações de empresas que tendem a se beneficiar com juros menores, especialmente aquelas ligadas ao consumo e à construção civil.
Outro fator relevante foi o desempenho das chamadas “blue chips”, principalmente as ações de primeira linha do mercado brasileiro. A Vale (VALE3), por exemplo, registrou alta de 0,35% no pregão do dia 28, ajudando a sustentar o índice apesar da queda nas cotações do minério de ferro em Dalian. De acordo com dados obtidos da bolsa, esse movimento representou uma correção após a mineradora ter recuado mais de 2% na sessão anterior.
Por outro lado, a Petrobras (PETR4) teve um comportamento divergente, com recuo de 0,39% na sessão, acompanhando a queda mais ampla do petróleo no mercado internacional. Mesmo assim, o desempenho positivo de outros papéis de peso, como os bancos, ajudou a compensar e manter o índice no território positivo.
É importante notar que o volume financeiro negociado no dia 28 de abril foi de R$ 20,4 bilhões, valor inferior à média diária de R$ 23 bilhões, o que indica uma certa cautela dos investidores. Essa redução na liquidez pode ser explicada pelo fato de que muitos participantes do mercado estavam na expectativa pelos dados econômicos importantes que seriam divulgados ao longo da semana, além da proximidade do feriado de 1º de maio no Brasil.
A rotação de ativos no cenário global também favoreceu o mercado brasileiro. As incertezas no exterior, principalmente relacionadas às tensões comerciais entre EUA e China, têm levado investidores estrangeiros a buscarem alternativas em mercados emergentes, incluindo o Brasil. Dados da B3 mostram que tem havido entrada líquida de capital estrangeiro na bolsa brasileira, contribuindo para a sustentação dos preços das ações.
Do ponto de vista técnico, o Ibovespa conseguiu superar resistências importantes, o que pode abrir caminho para novas altas. O nível de 135 mil pontos era visto como uma barreira psicológica relevante, e sua superação representa um sinal positivo para os investidores que utilizam análise técnica em suas decisões. A última vez que o índice havia fechado acima desse patamar tinha sido em 5 de setembro de 2024, conforme apontam os dados históricos.
As expectativas em relação aos resultados corporativos do primeiro trimestre de 2025 também têm influenciado positivamente o mercado. A temporada de balanços está em pleno andamento, com empresas importantes como Vale, Gerdau, Santander e outras já tendo divulgado seus números ou com previsão de divulgação nos próximos dias. Resultados sólidos podem dar novo impulso às ações, enquanto números abaixo do esperado podem gerar volatilidade setorial.
A valorização recente do real frente ao dólar é outro elemento que ajuda a explicar o bom momento do Ibovespa. A moeda americana recuou 0,68% no dia 28 de abril, cotada a R$ 5,648, marcando a sétima queda consecutiva. A desvalorização do dólar tende a beneficiar empresas com dívidas em moeda estrangeira e aquelas que importam insumos, refletindo positivamente em suas ações.
O cenário internacional e sua influência no mercado brasileiro
O mercado acionário brasileiro, embora tenha suas particularidades e dinâmicas próprias, não está imune aos acontecimentos internacionais. Na atual conjuntura, o cenário externo tem exercido uma influência significativa sobre o comportamento do Ibovespa, tanto positiva quanto negativamente.
Um dos principais fatores externos que tem afetado o mercado brasileiro é a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, iniciada pelo presidente americano Donald Trump. No final de abril de 2025, o secretário do Tesouro estadunidense, Scott Bessent, afirmou que o governo estava fazendo “negócios personalizados” com 15 a 18 parceiros comerciais e que Trump estava “pessoalmente envolvido” em todas essas negociações. No entanto, a China, que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, segue fora dessas conversações.
Essa tensão comercial gera incertezas para o mercado global, mas também cria oportunidades para o Brasil, que pode se beneficiar como fornecedor alternativo de commodities para ambos os países. A sinalização de que grupos empresariais chineses suspenderam tarifas em alguns produtos norte-americanos reacendeu esperanças de um alívio nas tensões, conforme reportado pela imprensa internacional, o que contribuiu para o clima mais positivo nos mercados no final de abril.
Os dados econômicos recentes dos Estados Unidos também têm impactado significativamente os mercados globais, incluindo o brasileiro. Na última semana de abril, foram divulgados três indicadores importantes que mostraram uma desaceleração da economia americana:
- O PIB dos EUA no primeiro trimestre de 2025 apresentou queda de 0,3%, conforme a primeira leitura divulgada em 30 de abril, ficando abaixo da expectativa do mercado, que apontava para uma leve alta de 0,4%.
- Os dados do relatório de empregos ADP revelaram que o setor privado dos EUA criou apenas 62 mil vagas de trabalho em abril, bem abaixo das 124 mil esperadas pelo mercado.
- O núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed), avançou 0,1% em março ante fevereiro, com alta anual de 2,6%, em linha com as projeções.
Esses indicadores sugerem um esfriamento da economia americana, o que pode influenciar as decisões do Fed sobre taxa de juros. Para o Brasil, isso representa uma possibilidade de fluxo de capitais para mercados emergentes, em busca de melhores retornos, caso o Fed inicie um ciclo de corte de juros.
A expectativa em relação às decisões dos bancos centrais, tanto no Brasil quanto nos EUA, tem sido outro fator determinante para o comportamento do Ibovespa. A próxima reunião do Federal Reserve estava marcada para 7 de maio, com grande probabilidade de manutenção dos juros no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano. Já para a reunião de junho, dados os sinais de desaceleração da economia americana, cresciam as apostas em um corte de 0,25 ponto percentual.
No Brasil, as declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, trouxeram otimismo aos investidores ao mencionar sinais iniciais de desaceleração da economia. Embora tenha destacado a necessidade de manter vigilância sobre o comportamento dos preços, essa postura indica uma possível alteração na política de juros altos implementada nos meses anteriores.
A tabela abaixo ilustra o desempenho recente do Ibovespa entre 15 de abril e 30 de abril de 2025:
Data | Fechamento |
15/04/2025 | 129.245,0 |
16/04/2025 | 128.317,0 |
17/04/2025 | 129.650,0 |
22/04/2025 | 130.464,0 |
23/04/2025 | 132.216,0 |
24/04/2025 | 134.580,0 |
25/04/2025 | 134.739,0 |
28/04/2025 | 135.016,0 |
29/04/2025 | 135.093,0 |
30/04/2025 | 135.067,0 |
Observando essa evolução, é possível notar uma tendência de alta consistente no período, com o índice ganhando mais de 5.800 pontos em apenas duas semanas. Essa trajetória ascendente ocorreu mesmo em um ambiente de incertezas globais, o que demonstra uma confiança específica no mercado brasileiro por parte dos investidores.
Perspectivas para o Ibovespa e estratégias para investidores
Com o Ibovespa sustentando o patamar dos 135 mil pontos e acumulando ganhos significativos em 2025, a grande questão que se coloca para investidores e analistas de mercado é: até onde o principal índice da bolsa brasileira pode avançar nos próximos meses? A resposta a essa pergunta envolve múltiplos fatores, desde a temporada de resultados corporativos até as políticas monetárias no Brasil e no exterior.
A temporada de divulgação de resultados do primeiro trimestre de 2025 está em pleno andamento e tem papel fundamental nas expectativas para o mercado. Grandes empresas como Vale, Santander, Weg e outras já divulgaram seus números, enquanto outras companhias importantes como Itaú Unibanco, Bradesco e Petrobras ainda apresentariam seus balanços na primeira semana de maio. De acordo com o calendário divulgado, mais de 80 empresas listadas na B3 divulgariam seus resultados até meados de maio, o que poderia trazer volatilidade ao mercado, mas também potenciais catalisadores para novos movimentos de alta.
O operador de renda variável da Manchester Investimentos, Henrique Lenzi, avaliou que o investidor aguardava mais sinais – com dados macroeconômicos e balanços importantes durante aquela semana – para entender se o índice tinha potencial de subir mais do que o movimento observado até então. Esse comportamento de cautela é típico de mercados que atingem patamares históricos e buscam confirmação para a continuidade do movimento através de dados fundamentalistas.
No cenário doméstico, as expectativas em relação à política fiscal brasileira ganham relevância. As declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a importância da colaboração entre Executivo, Legislativo e Judiciário para o equilíbrio das contas públicas, destacam a preocupação do governo com a percepção de responsabilidade fiscal. Um compromisso crível com as contas públicas tende a ser bem recebido pelo mercado, podendo contribuir para novas altas do Ibovespa.
Outro ponto de atenção é o comportamento do dólar frente ao real. Em abril de 2025, o dólar acumulou queda de aproximadamente 1,01%, o que favoreceu empresas com dívidas em moeda estrangeira e importadoras. A continuidade ou reversão dessa tendência pode influenciar significativamente o desempenho de determinados setores da bolsa brasileira. A tabela abaixo mostra a evolução recente da cotação do dólar:
Data | Cotação (R$) |
21/04/2025 | 6,1154 |
22/04/2025 | 6,0895 |
23/04/2025 | 5,9790 |
24/04/2025 | 5,9149 |
25/04/2025 | 5,9001 |
28/04/2025 | 5,9114 |
29/04/2025 | 5,6461 |
30/04/2025 | 5,6602 |
Para os investidores brasileiros, este momento do mercado exige uma análise cuidadosa das oportunidades e riscos. Diante de um Ibovespa em níveis elevados, algumas estratégias podem ser consideradas:
- Diversificação entre setores: empresas de diferentes setores tendem a responder de maneiras distintas aos estímulos macroeconômicos. Enquanto algumas podem se beneficiar com a queda dos juros, outras podem ser mais sensíveis ao câmbio ou ao cenário internacional.
- Atenção aos resultados corporativos: balanços positivos podem impulsionar ações específicas, mesmo em um cenário de correção do índice como um todo. A análise fundamentalista ganha ainda mais relevância em momentos de valorização expressiva do mercado.
- Avaliação do timing de entrada: para quem ainda não está posicionado, avaliar pontos de entrada após correções pode ser uma estratégia mais conservadora do que comprar no topo.
- Considerar proteções: para investidores com posições mais significativas, estratégias de proteção através de opções ou outros derivativos podem ser consideradas para mitigar riscos de correções mais expressivas.
- Manter perspectiva de longo prazo: movimentos de curto prazo podem ser voláteis, mas investidores com horizonte de longo prazo tendem a se beneficiar do crescimento das empresas brasileiras ao longo do tempo.
O que esperar do Ibovespa nos próximos meses
A marca dos 135 mil pontos atingida pelo Ibovespa representa um importante patamar psicológico e técnico para o mercado acionário brasileiro. Após seis altas consecutivas, o principal índice da B3 mostrou resiliência mesmo em um cenário global desafiador, indicando confiança dos investidores nas perspectivas para a economia brasileira e suas empresas listadas.
Os próximos meses serão fundamentais para determinar se este movimento de alta tem sustentação ou se representa apenas um rali temporário. O desempenho dos resultados corporativos, as decisões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, e os desdobramentos da guerra tarifária global serão elementos-chave para a definição dessa trajetória.
Em um contexto de volatilidade e incertezas, o investidor brasileiro deve manter uma postura vigilante, mas sem perder de vista as oportunidades que o mercado acionário nacional oferece, especialmente para aqueles com horizonte de investimento de médio e longo prazo. Mais do que nunca, a diversificação e a análise cuidadosa dos fundamentos das empresas devem guiar as decisões de alocação de capital.
Fontes e referências
UOL Economia – “Ibovespa sustenta nível de 135 mil pontos e fecha com a 6ª alta consecutiva”, 28/04/2025
InfoMoney – “Ibovespa encerra mês de setembro com queda de 3%, puxado pelo setor de varejo”, 30/09/2024
G1 Economia – “Dólar cai a R$ 5,64, após indicação que EUA vão negociar tarifas”, 28/04/2025
Money Times – “PIB dos Estados Unidos caiu 0,3% no 1T25, mostra primeira leitura”, 30/04/2025
Valor Investe – “ADP: EUA criam bem menos vagas que o esperado em abril. E daí?”, 30/04/2025
Rico Investimentos – “Temporada de resultados: confira o calendário de balanços do primeiro trimestre de 2025”, 22/04/2025
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