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Novos ares no Ibovespa: a reviravolta da bolsa em 2025 e o dinheiro estrangeiro que vai e vem

Após um 2024 para ser esquecido, com o Ibovespa amargando perda de 10,36% – o pior desempenho desde 2021 – os primeiros meses de 2025 surpreenderam positivamente investidores e analistas. Enquanto mercados desenvolvidos enfrentaram turbulência no primeiro trimestre, nossa bolsa tomou um caminho contrário, com valorização expressiva que chamou atenção global. O retorno do capital estrangeiro, os preços descontados de ações brasileiras e uma perspectiva mais favorável para nossa economia criaram um cenário de retomada. No entanto, a partir de abril, novos desafios emergiram com o anúncio das tarifas comerciais pelo presidente americano Donald Trump, aumentando a volatilidade e gerando dúvidas sobre a continuidade dessa recuperação. Este artigo examina os movimentos recentes da bolsa brasileira, o comportamento dos investidores estrangeiros e as perspectivas para quem busca oportunidades no mercado acionário nacional, considerando tanto os riscos quanto os potenciais de valorização neste ano tão peculiar.

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O surpreendente primeiro trimestre do Ibovespa

Enquanto os primeiros meses de 2025 foram de instabilidade nas principais economias do mundo, o mercado brasileiro apresentou desempenho que poucos analistas tinham previsto. O Ibovespa entregou uma valorização expressiva de 6,08% em março, sendo o melhor mês desde agosto de 2024, quando havia avançado 6,54%. Mais impressionante ainda foi o desempenho acumulado no primeiro trimestre, que registrou alta de 8,29%, representando o maior resultado trimestral desde o último trimestre de 2023, quando o índice havia subido 15,12%.

Esta performance ganha ainda mais relevância quando comparada com os mercados internacionais no mesmo período. Enquanto o Ibovespa avançava, os principais índices americanos seguiam direção oposta: o S&P 500 registrou queda de 5,75% em março, a maior retração mensal desde setembro de 2022; o Nasdaq perdeu 8,21% e o Dow Jones recuou 4,20%. Esta disparidade de resultados evidencia um momento de rotação global de capital, com investidores buscando alternativas aos ativos americanos.

A trajetória de alta continuou em abril, e no dia 24, o Ibovespa fechou com alta de 1,79%, aos 134.580,43 pontos, o maior patamar de fechamento de 2025. Este nível representa uma recuperação significativa em relação à mínima do ano, de 118.222 pontos, registrada nos primeiros meses.

O que explica essa recuperação robusta? Vários fatores contribuíram para esse cenário. Primeiro, os valuations extremamente descontados das empresas brasileiras. De acordo com dados da Genial Investimentos, o Ibovespa estava sendo negociado a 7,1 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, bem abaixo da média histórica de 10,7 vezes. As empresas ligadas à economia doméstica, por sua vez, estavam com múltiplo P/L de 8,6, contra média histórica de 11,9. Esse desconto significativo atraiu investidores em busca de oportunidades, especialmente considerando o nível de preços após as quedas de 2024.

Outro fator relevante foi a expectativa de início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, que tradicionalmente beneficia mercados emergentes como o Brasil. Embora esse cenário tenha se complicado com a postura mais dura do Fed e as políticas de Trump, durante o primeiro trimestre essa narrativa impulsionou os fluxos para países em desenvolvimento.

No plano doméstico, mesmo com a taxa Selic elevada, o mercado passou a enxergar sinais de estabilização da inflação e da dívida pública, o que reduziu parcialmente os prêmios de risco que tanto prejudicaram nossa bolsa no ano anterior.

O vai e vem do capital estrangeiro

O fluxo de capital estrangeiro tem sido o termômetro e um dos principais impulsionadores da recuperação da bolsa brasileira em 2025. Após um 2024 marcado pela saída líquida de R$ 24,19 bilhões – o pior resultado desde 2016, quando a B3 passou a disponibilizar esses dados – os primeiros meses deste ano mostraram uma reversão significativa dessa tendência.

Em março, a bolsa registrou entrada de R$ 3,46 bilhões em capital estrangeiro, marcando o quarto mês consecutivo de fluxo positivo. Com isso, o saldo acumulado do ano chegou a R$ 10,9 bilhões positivos até o final do primeiro trimestre, evidenciando uma mudança na percepção dos investidores internacionais sobre os ativos brasileiros.

No entanto, abril trouxe uma reversão preocupante nesse cenário. Entre os dias 15 e 23 de abril, apesar de uma entrada pontual de R$ 3,9 bilhões, o saldo mensal seguia negativo em R$ 5,8 bilhões, configurando a maior saída mensal dos últimos 12 meses. Dados mais recentes indicam que a situação piorou, com o fluxo acumulado do ano ficando negativo pela primeira vez em 2025, com retiradas superando aportes em R$ 243 milhões até 16 de abril. Apenas em abril, a saída chegou a expressivos R$ 10,8 bilhões.

É importante destacar que a B3 realizou uma correção nos dados de fluxo de capital estrangeiro em março, reduzindo o saldo acumulado de 2025 de R$ 14,3 bilhões para R$ 11,6 bilhões. Essa revisão ocorreu porque operações de opções de Ibovespa não estavam sendo refletidas corretamente no sistema entre 17 de fevereiro e 24 de março.

PeríodoFluxo EstrangeiroVariação Ibovespa
Jan 2025+R$ 3,2 bilhões+2,47%
Fev 2025+R$ 0,7 bilhões-0,26%
Mar 2025+R$ 4,1 bilhões+6,08%
Abr 2025*-R$ 10,8 bilhões+2,80%*
Acumulado 2024-R$ 24,19 bilhões-10,36%

*Dados parciais até 23/04/2025

A tabela acima ilustra claramente a correlação entre o fluxo estrangeiro e o desempenho do Ibovespa, embora em abril estejamos vendo uma divergência interessante, com o índice mantendo performance positiva apesar da saída de recursos externos. Isto sugere que outros participantes do mercado, como investidores institucionais e pessoas físicas, estão assumindo posições mais relevantes.

De fato, enquanto os estrangeiros retiravam recursos em abril, os investidores institucionais apresentaram entrada líquida de R$ 1,6 bilhão, o que pode representar uma mudança de postura após meses de saídas. Se confirmado até o fim do mês, será a primeira entrada líquida em 12 meses para essa categoria. Os investidores pessoa física também contribuíram positivamente com uma entrada líquida de R$ 1,4 bilhão no mesmo período, demonstrando confiança nas perspectivas do mercado acionário brasileiro.

Esta mudança na dinâmica dos fluxos pode sinalizar uma nova fase para o mercado brasileiro, menos dependente do capital externo e com maior participação dos investidores locais, que historicamente tendem a manter posições por prazos mais longos e são menos sensíveis a volatilidades de curto prazo.

Trump, tarifas e oportunidades: o novo xadrez global e seus efeitos no Brasil

Um dos fatores que mais impactou os mercados globais no início de abril foi o anúncio das tarifas comerciais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em 2 de abril de 2025, Trump implementou uma tarifa de 10% para importações de todo o mundo, além de cobranças ainda mais altas para certos produtos e países, especialmente aqueles com os quais os EUA mantêm déficits comerciais expressivos.

Para o Brasil, foi imposta uma tarifa linear adicional de 10% sobre todas as exportações para os Estados Unidos, além das taxas anteriores de 25% sobre aço, alumínio, veículos e peças automotivas. A reação do governo brasileiro foi imediata, destacando que os EUA registram superávits comerciais recorrentes com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, o que contradiz a alegação de necessidade de “reciprocidade comercial” usada para justificar as novas tarifas.

O mercado reagiu com extrema volatilidade após o anúncio. No dia seguinte, as principais bolsas globais registraram fortes quedas: na Ásia, com destaque para recuo de quase 3% no Japão; na Europa, com quedas na casa dos 3%; e nos EUA, onde o Dow Jones caiu 3,98%, o S&P 500, 4,85%, e o Nasdaq recuou impressionantes 5,99%.

Curiosamente, o Ibovespa mostrou maior resiliência diante desse cenário turbulento, fechando com leve queda de apenas 0,04% e sustentando o patamar de 131 mil pontos. Analistas avaliaram que as taxas anunciadas para o Brasil, de 10%, foram as menores do tarifaço global, e que as novas medidas poderiam até abrir oportunidades para exportadores brasileiros, que poderiam ganhar espaço com novos parceiros comerciais à medida que cadeias globais de suprimentos se reorganizam.

Esta guerra comercial tem gerado tanto riscos quanto oportunidades para o mercado brasileiro. Por um lado, a desaceleração da economia global pode impactar negativamente as exportações e os resultados de empresas com exposição internacional. Empresas como Embraer, Iochpe-Maxion, Tupy e Mahle Metal Leve estão entre as mais expostas aos efeitos diretos das tarifas, segundo análises da Levante Inside Corp.

Por outro lado, o Brasil pode se beneficiar de uma realocação de capital global, especialmente se as tensões entre EUA e China se intensificarem. Nosso mercado oferece boa liquidez e ativos significativamente descontados quando comparados às bolsas de outros emergentes, além de sermos menos dependentes do mercado americano do que outros países asiáticos, por exemplo.

Uma questão crucial é como essa disputa comercial afetará a trajetória dos juros americanos. Se as tarifas gerarem inflação adicional nos EUA, o Federal Reserve poderá ser mais cauteloso em reduzir os juros, o que tradicionalmente pressiona mercados emergentes. Ao mesmo tempo, se a economia americana desacelerar significativamente, poderá forçar cortes de juros, potencialmente beneficiando mercados como o brasileiro.

Para investidores individuais, este cenário complexo exige atenção especial na seleção de ativos. Empresas com forte presença no mercado doméstico, baixo endividamento em dólar e capacidade de repasse de preços podem representar melhores oportunidades frente às incertezas globais. Setores como utilidades públicas, bancos com foco no varejo e empresas de consumo essencial tendem a ser menos impactados por turbulências externas.

O que esperar para o restante de 2025

O mercado acionário brasileiro apresentou uma notável recuperação nos primeiros meses de 2025, contrastando com o desempenho negativo do ano anterior. O Ibovespa acumulou ganhos expressivos no primeiro trimestre e manteve trajetória positiva em abril, apesar da recente reversão do fluxo estrangeiro e das incertezas geradas pela guerra comercial global.

Para investidores com horizonte de longo prazo, o momento atual pode oferecer oportunidades interessantes, considerando que muitas empresas brasileiras negociam com múltiplos abaixo de suas médias históricas. O Ibovespa está sendo negociado a 7,1 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, versus uma média histórica de 10,7 vezes, o que sugere um potencial de valorização quando as condições de mercado se normalizarem.

As small caps (empresas de menor capitalização) apresentam desconto ainda mais acentuado, sendo negociadas a 8,8 vezes o lucro projetado, muito abaixo da média histórica de 14,1 vezes. Isso pode indicar um potencial de recuperação mais expressivo para essas companhias, especialmente se houver melhora nas condições econômicas domésticas.

É fundamental, porém, manter cautela e seletividade nas alocações, priorizando empresas com fundamentos sólidos, baixo endividamento e capacidade de preservar margens mesmo em cenários adversos. A volatilidade deve persistir nos próximos meses, influenciada tanto por fatores externos quanto por desenvolvimentos domésticos relacionados à política fiscal e monetária.

Como diria o investidor experiente, os melhores momentos para investir em renda variável são justamente aqueles em que o pessimismo parece dominar. Mas isso não significa entrar no mercado sem critérios – significa aproveitar os preços atrativos com estratégia clara e diversificação adequada.

Fontes e referências:

Quantum Finance – Ibovespa: alta de 8,3% no 1º trimestre de 2025, abril/2025
InfoMoney – Ibovespa fecha no maior patamar de 2025, com Vale, B3 e bancos, abril/2025
G1 – Tarifas recíprocas: por que o dólar caiu e a bolsa brasileira se segurou após o ‘tarifaço’, abril/2025
Genial Investimentos – Estratégia em Ação – Abril de 2025, abril/2025
O Globo – Bye bye, Brasil? Fluxo de capital estrangeiro fica negativo na Bolsa, abril/2025
E-Investidor/Estadão – B3 corrige dados e fluxo de capital estrangeiro de 2025 diminui, março/2025
Agência Brasil – Entenda a guerra de tarifas de Trump e consequências para Brasil, abril/2025
UOL – Ibovespa encerra o ano de 2024 em queda, dezembro/2024

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Luiz Eduardo Correa Pinto

Assessor de Investimentos Associado na BLUE3 | XP Investimentos, com mais de duas décadas de experiência em liderança comercial e especialização no setor financeiro. Expertise consolidada em soluções de investimentos, planejamento patrimonial e sucessório para pessoas físicas e jurídicas. Sólida trajetória na Indústria de Pagamentos, incluindo POS, API, câmbio e soluções SAAS. Experiência multicultural em negociações complexas e gestão de relacionamentos estratégicos.

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