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Economia brasileira em 2025: crescimento resiliente em um cenário de ajustes

A economia brasileira atravessa um momento peculiar. Após um expressivo crescimento de 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, os indicadores apontam para uma desaceleração controlada em 2025, mas sem perder completamente o fôlego. O mercado financeiro, atento às sinalizações macroeconômicas, ajustou recentemente suas projeções. De acordo com o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central em abril de 2025, a expectativa para o crescimento do PIB em 2025 foi elevada de 1,97% para 1,98%. Embora o aumento seja modesto, ele revela uma mudança na percepção dos agentes econômicos, que passaram a enxergar maior resiliência da atividade produtiva brasileira frente aos diversos desafios domésticos e internacionais.

Este cenário de desaceleração moderada não surpreende os especialistas. O crescimento robusto de 2024 foi impulsionado por uma combinação de fatores extraordinários, incluindo a recuperação pós-pandemia, o aquecimento do mercado de trabalho e os estímulos fiscais. Entretanto, a política monetária contracionista, com a taxa Selic atualmente em patamares elevados, o menor impulso fiscal previsto para este ano e as incertezas do cenário internacional configuram um ambiente menos propício para a manutenção do mesmo ritmo de expansão. Neste artigo, analiso os fatores que moldarão o desempenho econômico do Brasil em 2025 e como os investidores podem se posicionar diante deste novo contexto.

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As diferentes perspectivas para o PIB brasileiro em 2025

As previsões para o crescimento da economia brasileira em 2025 apresentam algumas divergências entre os diversos órgãos e instituições que acompanham o tema. O Banco Central, em seu Relatório de Política Monetária divulgado em março de 2025, reduziu sua projeção de crescimento do PIB de 2,1% para 1,9%. De acordo com a autoridade monetária, “a mudança refletiu recuos nas previsões para indústria e serviços, relacionados com surpresas negativas no quarto trimestre e com uma expectativa de desaceleração mais pronunciada ao longo do ano, parcialmente compensados por alta na projeção para a agropecuária”.

Já o Ministério da Fazenda mantém um viés mais otimista. Em fevereiro de 2025, a Secretaria de Política Econômica (SPE) atualizou sua projeção de crescimento de 2,5% para 2,3%. Segundo o documento publicado pela pasta, a redução nas expectativas se deve principalmente ao “aumento na taxa de juros básica e o cenário conjuntural externo”, que levaram à expectativa de menor ritmo de expansão da atividade em 2025.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por sua vez, manteve sua estimativa de crescimento em 2,4% para 2025. Segundo o instituto, “a projeção do PIB para o próximo ano manteve-se inalterada por conta dos níveis de incerteza embutidos nas previsões, que estão bastante elevados no momento”.

A diferença nas projeções reflete metodologias distintas e diferentes interpretações sobre o peso relativo dos fatores que influenciarão a economia. O Banco Central, responsável pela política monetária, tende a dar mais ênfase aos efeitos contracionistas dos juros altos. O Ministério da Fazenda, por outro lado, pode estar considerando mais fortemente o potencial crescimento sustentado pela demanda doméstica e investimentos públicos e privados.

O que todas as projeções têm em comum é a expectativa de desaceleração em relação ao vigoroso desempenho de 2024, quando a economia cresceu 3,4%. Como aponta o relatório do Banco Central, essa desaceleração “está associada à política monetária mais contracionista, ao menor impulso fiscal, ao reduzido grau de ociosidade dos fatores de produção e à moderação do crescimento global”.

Um aspecto importante dessa desaceleração é seu perfil ao longo do ano. Como aponta o estudo do Valor Econômico, publicado em abril de 2025, a expectativa é de “um período marcado por ritmos muito distintos nas duas metades do ano, com o primeiro semestre mais forte e o segundo mais fraco”. O crescimento mais expressivo no início do ano seria impulsionado pelo “aumento do salário mínimo, a liberação de recursos extras do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a expectativa de safra recorde de soja, cuja colheita é concentrada no início do ano”.

Os motores do crescimento: análise setorial da economia

Analisar o desempenho esperado para os diferentes setores da economia brasileira em 2025 nos oferece uma visão mais clara sobre quais serão os motores do crescimento neste ano. O setor agropecuário desponta como o grande destaque, com projeções de crescimento significativamente superiores aos demais setores.

Segundo as projeções do Banco Central, a agropecuária deve crescer 6,5% em 2025, revisada para cima em relação à estimativa anterior de 4%. O Ministério da Fazenda, em sua última atualização, também prevê um crescimento expressivo de 6,0% para o setor. Esse desempenho extraordinário está associado principalmente à expectativa de uma safra recorde, especialmente de soja, milho e arroz, conforme mencionado pela Secretaria de Política Econômica (SPE).

Para o setor industrial, as projeções são mais modestas, mas ainda assim positivas. O Banco Central revisou ligeiramente para baixo sua estimativa, de 2,4% para 2,2%, enquanto o Ministério da Fazenda projeta o mesmo percentual, 2,2%. O Ipea, por sua vez, estima um crescimento de 2,3% para a indústria em 2025. A ligeira desaceleração do setor industrial em relação a 2024 reflete principalmente o impacto dos juros mais altos sobre a indústria de transformação, mais sensível às condições de crédito.

Quanto ao setor de serviços, que representa aproximadamente 70% do PIB brasileiro, as projeções indicam um crescimento entre 1,5% e 2,4%, dependendo da fonte. O Banco Central revisou sua estimativa de 1,9% para 1,5%, enquanto o Ministério da Fazenda projeta 1,9% e o Ipea, 2,4%. A desaceleração neste setor é particularmente relevante, pois reflete o arrefecimento do consumo das famílias, principal componente da demanda agregada brasileira.

De fato, o comportamento do consumo das famílias é um dos fatores cruciais para entender a dinâmica da economia em 2025. Após um crescimento expressivo de 4,8% em 2024, a expectativa para 2025 é de uma expansão bem mais modesta. Segundo análise publicada no Valor Econômico, alguns economistas projetam uma taxa de apenas 1% para o consumo das famílias neste ano.

É importante observar que essa desaceleração do consumo não está relacionada apenas aos juros mais altos, mas também ao menor impulso fiscal previsto para 2025 e ao fato de que o mercado de trabalho já opera próximo ao pleno emprego, limitando o espaço para expansões adicionais da massa salarial no ritmo observado nos últimos anos.

A tabela abaixo sintetiza as projeções de crescimento para os diferentes setores da economia em 2025, segundo as principais fontes oficiais:

SetorBanco CentralMinistério da FazendaIPEA
Agropecuária6,5%6,0%N/D
Indústria2,2%2,2%2,3%
Serviços1,5%1,9%2,4%
PIB Total1,9%2,3%2,4%

Desafios e incertezas para a economia brasileira em 2025

O cenário econômico brasileiro para 2025 está cercado de desafios e incertezas que podem influenciar significativamente o desempenho projetado. O Banco Central já alertou que “a incerteza em torno do cenário central aumentou, considerando fatores externos e domésticos”. Compreender esses fatores é essencial para navegar com mais segurança neste ambiente.

Um dos principais desafios domésticos é a política fiscal. O equilíbrio das contas públicas continua sendo um tema central no debate econômico brasileiro. Segundo análise publicada pelo G1 em março de 2025, os gastos do governo representam um dos principais riscos para a atividade econômica do país. Se por um lado os estímulos fiscais dos últimos anos ajudaram a impulsionar o crescimento no curto prazo, por outro lado, a necessidade de ajustes e a busca pela sustentabilidade fiscal podem representar um freio para a economia em 2025.

No campo monetário, o desafio está no patamar elevado da taxa básica de juros. A Selic, atualmente em 14,25% ao ano, segundo o relatório mais recente do Banco Central, configura “o maior juro real do mundo”, o que tem um efeito contracionista sobre a atividade econômica. O próprio Banco Central reconhece que a “política monetária mais contracionista” é um dos fatores por trás da desaceleração esperada para 2025.

A pesquisa Focus de março de 2025 já indicava uma expectativa ainda maior para os juros no fechamento do ano, com a Selic projetada em 15,00%. Juros altos desestimulam o investimento produtivo e o consumo, especialmente de bens duráveis, que dependem fortemente do crédito.

No campo externo, as incertezas também são significativas. Como aponta o relatório do Banco Central, “a conjuntura e a política econômica nos Estados Unidos, em particular a incerteza acerca da sua política comercial, suscitam mais dúvidas sobre os ritmos de desaceleração da atividade econômica e da desinflação”. A política comercial americana é de especial relevância para o Brasil, uma vez que eventuais aumento nas tarifas de importação por parte dos EUA poderia afetar as exportações brasileiras.

O risco de uma desaceleração mais intensa que a prevista também não pode ser ignorado. Segundo análise publicada no Valor Econômico, existe inclusive uma preocupação com a “velocidade da desaceleração da economia” e se há “chance de recessão técnica, ou seja, dois trimestres de queda no PIB”. Embora os analistas não considerem este o cenário mais provável, o risco não pode ser completamente descartado, especialmente se houver uma combinação desfavorável dos fatores mencionados anteriormente.

Por outro lado, existem elementos que podem contribuir para um desempenho melhor que o esperado. O setor agropecuário, por exemplo, pode ter um resultado ainda mais expressivo se as condições climáticas forem favoráveis. Além disso, a melhora no cenário externo, com uma possível aceleração da economia global, poderia beneficiar as exportações brasileiras e impulsionar o crescimento doméstico.

Estratégias para investidores em um contexto de crescimento moderado

O cenário projetado para a economia brasileira em 2025 – de crescimento moderado, com desaceleração em relação a 2024, juros elevados e um ambiente de incertezas – exige uma abordagem cuidadosa para a alocação de investimentos. É importante considerar tanto os desafios quanto as oportunidades que emergem neste contexto.

Os juros elevados, se por um lado desaceleram a atividade econômica, por outro oferecem retornos atrativos em instrumentos de renda fixa. Títulos públicos, CDBs, LCIs, LCAs e outros produtos de renda fixa tendem a oferecer rendimentos reais interessantes, especialmente considerando que as projeções de inflação para 2025, de acordo com o Banco Central, estão em 5,1%, acima da meta, mas ainda em patamar controlado.

No mercado de ações, o cenário de desaceleração sugere seletividade. Empresas de setores menos cíclicos, como o agronegócio, que deve crescer 6,5% segundo o Banco Central, podem apresentar bom desempenho mesmo em um ambiente econômico mais desafiador. Companhias com baixo endividamento e forte geração de caixa também tendem a navegar melhor em um contexto de juros elevados.

O setor de serviços, embora com crescimento projetado mais modesto (entre 1,5% e 2,4%, dependendo da fonte), continua sendo responsável por cerca de 70% do PIB brasileiro. Dentro deste segmento, negócios voltados para as necessidades básicas e serviços essenciais tendem a apresentar maior resiliência.

Para investidores com horizonte de longo prazo, momentos de desaceleração econômica e maior volatilidade nos mercados podem representar oportunidades para aquisição de ativos a preços mais atrativos. A diversificação entre diferentes classes de ativos e a construção de uma carteira alinhada com os objetivos financeiros de longo prazo continuam sendo princípios fundamentais.

É importante também estar atento às oportunidades que podem surgir de iniciativas governamentais para estimular a economia. Projetos de infraestrutura, parcerias público-privadas e programas de concessão podem gerar oportunidades interessantes para investidores, especialmente em um contexto de restrição fiscal que limita a capacidade de investimento direto do governo.

O crescimento da economia brasileira em 2025, embora mais moderado que em 2024, continua mostrando resiliência diante dos diversos desafios domésticos e internacionais. A recente elevação, ainda que modesta, na projeção do mercado financeiro para o PIB de 2025 (de 1,97% para 1,98%, segundo o Boletim Focus) sinaliza que, apesar dos fatores contracionistas, como a política monetária restritiva e o menor impulso fiscal, a economia brasileira mantém seus fundamentos positivos.

O perfil esperado para o crescimento em 2025 – mais forte no primeiro semestre e mais fraco no segundo – sugere a necessidade de monitoramento constante dos indicadores econômicos e adaptação das estratégias de investimento ao longo do ano. A diversificação entre diferentes classes de ativos e setores continua sendo a melhor proteção contra as incertezas do cenário econômico.

Os desafios são significativos, mas as oportunidades também estão presentes. O setor agropecuário, com projeção de crescimento expressivo, e os instrumentos de renda fixa, beneficiados pelos juros elevados, são exemplos de segmentos que podem oferecer bons resultados para investidores atentos às nuances do cenário econômico.

A economia brasileira está em um processo de ajuste após um período de crescimento acima do potencial. Navegar com sucesso neste ambiente requer conhecimento, disciplina e uma abordagem baseada em dados e análises fundamentadas, valores que continuam sendo a base para decisões financeiras bem-sucedidas em qualquer contexto econômico.

Fontes e Referências:

  1. CNN Brasil – Banco Central revisa projeção do PIB de 2025 de 2,1% para 1,9% – Março/2025
  2. InfoMoney – Fazenda reduz projeção do PIB de 2025 de 2,5% para 2,3% – Fevereiro/2025
  3. Valor Econômico – Velocidade da desaceleração da economia pode embutir risco de recessão técnica – Abril/2025
  4. Estadão – Fazenda reduz projeção do PIB de 2025 de 2,5% para 2,3% – Março/2025
  5. IPEA – IPEA projeta crescimento de 3,5% do PIB neste ano e de 2,4% para 2025 – Dezembro/2024
  6. IBGE – Produto Interno Bruto – PIB – 2024
  7. Agência Brasil – Mercado eleva previsão para expansão da economia em 2025 – Abril/2025
  8. O Globo – Ministério da Fazenda mantém projeção de desaceleração para 2025 – Março/2025
  9. Agência Brasil – BC reduz previsão do PIB de 2,1% para 1,9% em 2025 – Março/2025
  10. Ministério da Fazenda – SPE atualiza para 2,3% a perspectiva de crescimento do PIB brasileiro em 2025 – Fevereiro/2025
  11. UOL Economia – BC piora projeção de crescimento do PIB em 2025 de 2,1% para 1,9% – Março/2025
  12. O Globo – Banco Central reduz projeção de PIB de 2025 para 1,9% – Março/2025
  13. CNN Brasil – BC vê PIB girando acima da capacidade, mas projeta recuo em 2025 – Março/2025
  14. G1 – Os 3 principais riscos para o crescimento do PIB do Brasil em 2025 – Março/2025
  15. CNN Brasil – Focus: mercado reduz projeções para o PIB e a inflação no Brasil em 2025 – Março/2025

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Luiz Eduardo Correa Pinto

Assessor de Investimentos Associado na BLUE3 | XP Investimentos, com mais de duas décadas de experiência em liderança comercial e especialização no setor financeiro. Expertise consolidada em soluções de investimentos, planejamento patrimonial e sucessório para pessoas físicas e jurídicas. Sólida trajetória na Indústria de Pagamentos, incluindo POS, API, câmbio e soluções SAAS. Experiência multicultural em negociações complexas e gestão de relacionamentos estratégicos.

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