Após um 2024 desafiador, com o Ibovespa registrando queda de 10,36%, o mercado acionário brasileiro dá sinais de recuperação em 2025. O principal índice da B3 acumula uma valorização superior a 8,29% no primeiro trimestre, marcando seu melhor desempenho inicial desde 2022. Este movimento de alta ocorre em um contexto econômico complexo, caracterizado por pressões inflacionárias e juros elevados, fatores que tradicionalmente impactam negativamente o mercado de ações.
O cenário macroeconômico atual apresenta desafios significativos para investidores. A taxa Selic, que segundo projeções do Boletim Focus deve alcançar 15% ao longo de 2025, pressiona as empresas com maiores custos de financiamento. Simultaneamente, a inflação medida pelo IPCA já se aproxima de 5%, acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central. Estes fatores, somados às incertezas fiscais domésticas e ao fortalecimento do dólar no cenário internacional, criam um ambiente que exige cautela e seletividade na escolha de investimentos.
No entanto, mesmo neste contexto desafiador, setores específicos da economia brasileira têm se destacado, oferecendo oportunidades interessantes para investidores que saibam identificá-las. A análise setorial torna-se, portanto, uma ferramenta essencial para navegar com sucesso no mercado acionário em 2025.

Setores resilientes em cenário de juros altos
Em um ambiente de juros elevados, certos setores da economia demonstram maior capacidade de resistência e até mesmo de prosperidade. Historicamente, quando a Selic sobe, empresas com fluxo de caixa previsível, baixo endividamento e receitas dolarizadas tendem a apresentar melhor desempenho relativo.
Setor financeiro: beneficiado pelo ciclo de juros
Os bancos e instituições financeiras frequentemente se beneficiam de cenários de juros altos, pois conseguem ampliar seus spreads (diferença entre juros pagos e cobrados). O BTG Pactual (BPAC11) exemplifica bem esta tendência, com valorização de 24,59% no primeiro trimestre de 2025. O setor bancário brasileiro é reconhecido por sua solidez e capacidade de adaptação a diferentes ciclos econômicos.
“Com algumas exceções, bancos e seguradoras no Brasil possuem grandes vantagens competitivas, além de boas margens operacionais”, explica Vinicius Romano, head de estratégia e produtos na Status Invest Assessoria de Investimentos. Esta resiliência se reflete no desempenho das ações, com o Itaú (ITUB4) figurando entre as principais recomendações do BB-BI para 2025.
Empresas com receitas dolarizadas: proteção natural
Companhias que possuem parte significativa de suas receitas em dólar oferecem uma proteção natural contra a desvalorização do real e a inflação. Setores como commodities, papel e celulose, e exportadores em geral tendem a se beneficiar neste cenário.
A Embraer, que foi a maior alta de 2024, continua entre as principais apostas dos analistas para 2025. A empresa, que tem grande parte de suas receitas em moeda estrangeira, representa um caso típico de companhia que pode prosperar mesmo em um cenário doméstico desafiador.
A JBS (JBSS3) também aparece como recomendação da XP Investimentos, “devido à força do ciclo de aves e à alta dolarização de suas receitas”. A corretora também aumentou sua posição em Petrobras (PETR4), com foco em “empresas com receitas dolarizadas e baixa alavancagem”.
Energia elétrica e saneamento: estabilidade e dividendos
O setor de energia elétrica e saneamento tradicionalmente oferece maior previsibilidade de receitas e bons dividendos, características valorizadas em momentos de incerteza econômica. A XP Investimentos ressalta que continua “favorecendo setores com carrego sólido (alta geração de fluxo de caixa), protegidos contra inflação e com exposição a receitas em dólar, como Elétricas & Saneamento, Bancos e Commodities”.
Entre as recomendações do BB-BI para 2025 estão Alupar (ALUP11), Copasa (CSMG3), Eletrobras ON (ELET3) e Isa Energia (ISAE3). A Copel (CPLE6) também foi adicionada à carteira da XP porque, segundo a corretora, “demonstra sólidas perspectivas de crescimento, impulsionadas pela estratégia de foco em ativos renováveis”.
Surpresas positivas: os destaques do primeiro trimestre
O primeiro trimestre de 2025 trouxe algumas surpresas positivas, com setores que não eram inicialmente os mais recomendados apresentando desempenho excepcional. Esta dinâmica reforça a importância de uma análise contínua e da diversificação nos investimentos.
Educação: recuperação expressiva
O setor educacional, que enfrentou dificuldades significativas nos últimos anos, mostrou uma recuperação impressionante no início de 2025. A Cogna (COGN3) liderou os ganhos do Ibovespa com valorização de 91,74% no primeiro trimestre. Este desempenho extraordinário está relacionado à melhoria operacional e de rentabilidade da empresa, além da expectativa de crescimento no número de matrículas.
“Essa melhora de percepção se refletiu no desempenho da Cogna e está relacionado com a expectativa da divulgação de resultados do 4T24 alinhados com o guidance, o que acabou ocorrendo”, destacou Monica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart XP. A YDUQS (YDUQ3), outra empresa do setor, também apresentou desempenho notável, com alta de 34,97% no período.
É importante notar que, apesar da forte valorização, as ações da Cogna ainda estão se recuperando de uma queda de 68,8% em 2024, o que sugere cautela na avaliação do potencial futuro.
Varejo: recuperação surpreendente
O setor varejista, tradicionalmente sensível a ciclos econômicos e taxas de juros, surpreendeu positivamente no início de 2025. A Magazine Luiza (MGLU3) registrou valorização de 56,15% no primeiro trimestre, conforme dados da Elos Ayta Consultoria publicados pela B3. O Assaí (ASAI3) também apresentou desempenho expressivo, com alta de aproximadamente 30% até meados de março, segundo análise do Santander. Já o Carrefour Brasil (CRFB3) acumulou valorização próxima a 19% nas primeiras semanas do ano, ganhando impulso adicional em abril após o controlador francês elevar a proposta para fechamento de capital.
Este desempenho pode ser atribuído a uma combinação de fatores, incluindo a melhora na percepção do cenário macroeconômico local, a disponibilidade de renda dos consumidores e a recuperação de margens operacionais das empresas. Além disso, muitas dessas ações vinham de quedas expressivas em 2024, o que contribuiu para a magnitude da recuperação.
Análise técnica: o caso da Cogna
A análise técnica também oferece insights valiosos sobre o potencial futuro das ações. No caso da Cogna (COGN3), o gráfico semanal mostra que a ação “segue em forte tendência de alta, negociando acima das médias móveis, que continuam inclinadas”.
Para dar continuidade ao movimento de alta, a ação precisa superar a região de resistência entre R$ 2,22 e R$ 2,38. Se esse patamar for rompido, o ativo pode ganhar novo impulso para buscar os próximos alvos em R$ 2,55 e R$ 2,89, com potencial para testar as resistências de R$ 3,13 e R$ 3,40 em um cenário mais otimista.
Por outro lado, caso inicie um movimento de correção, os primeiros suportes estão nas médias de 9 e 21 períodos, situadas em R$ 2,05 e R$ 1,87, respectivamente. A análise técnica complementa a fundamentalista, oferecendo parâmetros para decisões de entrada e saída.
Riscos e estratégias para o investidor
Apesar das oportunidades identificadas, o cenário para 2025 ainda apresenta riscos significativos que não podem ser ignorados. A estratégia de alocação deve considerar estes fatores, priorizando a preservação de capital e a diversificação.
Principais riscos para o mercado brasileiro
O principal risco para o mercado acionário brasileiro em 2025 continua sendo o cenário fiscal e seus desdobramentos sobre a política monetária. A XP Investimentos ressalta que “2025 deve ser um ano em que a preservação de capital e dividendos seguem mais relevantes do que a busca apenas por ganhos de capital. Mantemos alta cautela com empresas muito alavancadas, já que o mercado de juros precifica a taxa Selic alcançando 16% ou mais em 2025”.
Outro fator de risco é o cenário internacional, especialmente relacionado às políticas econômicas dos Estados Unidos. O retorno de Donald Trump à presidência americana pode fortalecer o dólar ainda mais diante das principais moedas do mundo, impactando negativamente mercados emergentes como o Brasil.
Estratégias recomendadas
Diante deste cenário, a recomendação é adotar uma abordagem mais defensiva e cautelosa para a alocação na bolsa brasileira. Isso significa priorizar investimentos em empresas que apresentem características sólidas, como balanços financeiros saudáveis, alta qualidade em seus negócios, menores níveis de endividamento e momento de lucro positivo.
Entre os setores recomendados para essa estratégia, destacam-se as empresas de energia elétrica e saneamento, telecomunicações e setor financeiro. Também existem oportunidades mais pontuais em empresas do segmento de óleo e gás, bens industriais e construtoras que atendem à baixa renda.
A tabela abaixo apresenta as 10 ações que mais se valorizaram no primeiro trimestre de 2025, oferecendo uma perspectiva sobre os setores que têm se destacado:
Empresa | Código | Setor | Retorno |
Cogna | COGN3 | Serviços educacionais | 91,74% |
Magazine Luiza | MGLU3 | Eletrodomésticos | 56,15% |
CVC Brasil | CVCB3 | Viagens e turismo | 53,62% |
Cyrela Realt | CYRE3 | Incorporações | 41,00% |
Assaí | ASAI3 | Alimentos | 36,14% |
Yduqs | YDUQ3 | Serviços educacionais | 34,97% |
Carrefour BR | CRFB3 | Alimentos | 33,52% |
Totvs | TOTS3 | Programas e serviços | 25,27% |
Tim | TIMS3 | Telecomunicações | 24,90% |
BTG Pactual | BPAC11 | Bancos | 24,59% |
O mercado acionário brasileiro em 2025 apresenta um cenário de oportunidades seletivas em meio a desafios macroeconômicos. Enquanto o Ibovespa mostra sinais de recuperação no primeiro trimestre, com alta de 8,29%, os fundamentos econômicos ainda inspiram cautela, com juros elevados e pressões inflacionárias.
A análise setorial revela que empresas com características específicas tendem a se destacar neste ambiente: aquelas com fluxo de caixa previsível, baixo endividamento, receitas dolarizadas e capacidade de repassar inflação. Setores como financeiro, energia elétrica, saneamento e commodities aparecem como alternativas mais resilientes.
Surpreendentemente, setores como educação e varejo, tradicionalmente sensíveis a juros altos, lideraram os ganhos no início do ano, demonstrando que oportunidades podem surgir mesmo nos segmentos aparentemente mais vulneráveis. Isto reforça a importância de uma análise fundamentalista e técnica detalhada, que vá além das generalizações setoriais.
Para navegar com sucesso neste mercado, a recomendação é manter uma abordagem defensiva, priorizando a qualidade dos ativos e a diversificação. Como sempre, o horizonte de investimento de longo prazo e a adequação ao perfil de risco individual permanecem princípios fundamentais para quem busca construir um patrimônio sólido através do mercado de ações.
Fontes e referências:
- InfoMoney, “2025 desafiador? Confira as ações preferidas dos analistas para o ano”, janeiro/2025 – https://www.infomoney.com.br/mercados/2025-desafiador-confira-as-acoes-preferidas-dos-analistas-para-o-ano/
- Suno, “Descubra quais são as melhores ações para investir em 2025”, dezembro/2024 – https://www.suno.com.br/noticias/acoes-para-investir-2025-go/
- InfoMoney, “Cogna teve incrível alta de 100% no ano; mas o que a análise revela a partir de agora”, abril/2025 – https://www.infomoney.com.br/mercados/cogna-teve-incrivel-alta-de-100-no-ano-mas-o-que-a-analise-revela-a-partir-de-agora/
- Terra, “Ibovespa vai continuar subindo em 2025? Entenda quais são os riscos e onde investir”, fevereiro/2025 – https://www.terra.com.br/economia/ibovespa-vai-continuar-subindo-em-2025-entenda-quais-sao-os-riscos-e-onde-investir,6d25a4e38b60064f2d9e65702da799845fahws0g.html
- Suno, “Onde investir em 2025: descubra quais setores devem se destacar”, janeiro/2025 – https://www.suno.com.br/noticias/onde-investir-2025-quais-setores-status-assessoria-go/
- B3 Bora Investir, “As 10 ações do Ibovespa que mais subiram no 1º trimestre de 2025”, abril/2025 – https://borainvestir.b3.com.br/tipos-de-investimentos/renda-variavel/acoes/as-10-acoes-do-ibovespa-que-mais-subiram-no-1o-trimestre-de-2025/
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