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Impacto das tarifas de Trump: como o protecionismo americano afeta o Brasil e cria novas oportunidades de investimento

O mercado financeiro global foi sacudido em abril de 2025 com o anúncio de novas tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em uma medida que ele chamou de “suave”, mas que promete transformar o comércio internacional, Trump impôs tarifas que variam de 10% a 50% sobre produtos importados de 126 países, incluindo o Brasil. Estas medidas, implementadas em duas etapas a partir de 5 de abril, representam a maior mudança na política comercial americana em décadas e elevam a tarifa média efetiva dos EUA para 22,5%, o nível mais alto desde 1909. Para o investidor brasileiro, compreender os desdobramentos dessas medidas é fundamental para identificar riscos e oportunidades em um cenário de transformação das relações comerciais globais. Vamos analisar como essas tarifas afetam o mercado brasileiro, quais setores estão mais vulneráveis e onde podem surgir oportunidades inesperadas.

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O novo cenário tarifário e seus efeitos globais

As tarifas anunciadas por Trump em 2 de abril estabelecem uma taxa base de 10% para todos os parceiros comerciais, com exceção do Canadá e México, e taxas mais elevadas para aproximadamente 60 países. Essa medida se soma a outras já implementadas em 2025, como a tarifa de 20% sobre importações chinesas (efetiva desde fevereiro), 25% sobre importações mexicanas e algumas canadenses (desde março), 25% sobre todos os automóveis importados (desde 3 de abril) e 25% sobre importações de aço e alumínio (desde 12 de março).

O impacto econômico dessas medidas é significativo. Segundo análise do Budget Lab, apenas as tarifas anunciadas em 2 de abril devem aumentar os preços ao consumidor americano em 1,3% no curto prazo, representando uma perda de poder de compra de US$ 2.100 por domicílio em média. Considerando todas as tarifas implementadas em 2025, o aumento de preços chega a 2,3%, equivalente a uma perda de US$ 3.800 por domicílio.

O impacto no crescimento econômico também é preocupante. As tarifas de abril devem reduzir o crescimento do PIB americano em 0,5 ponto percentual em 2025 e 0,1 ponto percentual em 2026. No longo prazo, a economia americana deve ficar 0,4% menor, o equivalente a US$ 100 bilhões anuais. Considerando todas as tarifas de 2025, a redução no crescimento do PIB chega a 0,9 ponto percentual em 2025, com a economia permanentemente 0,6% menor no longo prazo.

Esse cenário de desaceleração econômica e aumento de preços nos EUA tem implicações globais. JPMorgan classificou as tarifas como “um aumento de impostos de aproximadamente US$ 660 bilhões” e alertou que o “choque” econômico será intensificado por eventuais retaliações dos parceiros comerciais americanos. A União Europeia já indicou que está preparando contramedidas, enquanto a China condenou as ações americanas como “intimidação unilateral” e prometeu responder.

Brasil: entre desafios e oportunidades inesperadas

Para o Brasil, o impacto das tarifas de Trump é complexo e multifacetado. Por um lado, as exportações brasileiras para os EUA, que totalizaram cerca de US$ 39-40 bilhões em 2024, agora enfrentam uma tarifa de 10%. Por outro lado, essa taxa é significativamente menor que as impostas a muitos outros países, o que pode criar vantagens competitivas relativas para produtos brasileiros no mercado americano.

Os setores mais afetados incluem:

1. Aço e Metais: O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, fornecendo cerca de 18% do metal produzido por suas siderúrgicas. A indústria siderúrgica já vinha sofrendo com uma tarifa de 25% desde março e agora enfrenta o risco de perder ainda mais competitividade. Estima-se uma potencial perda de até US$ 1,1 bilhão em exportações de aço para 2025.

2. Petróleo e Minerais: Petróleo bruto, minerais, ferro e aço estão entre os principais produtos brasileiros afetados. No entanto, certos produtos, notadamente petróleo bruto e “minerais críticos”, parecem efetivamente isentos das novas tarifas.

3. Indústria Aeroespacial: Peças de aeronaves, um importante item de exportação do Brasil para os EUA, também serão impactadas pelas novas tarifas.

4. Etanol e Café: Produtos agrícolas como etanol e café também sentirão o aperto das novas tarifas.

No entanto, há sinais de que o mercado brasileiro pode sair relativamente ileso, ou até mesmo beneficiado, deste cenário. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, fechou perto da estabilidade em 131.140,65 pontos no dia 3 de abril, com uma queda marginal de 0,04% (-49,69 pontos), interrompendo uma sequência de dois dias de alta. Esta reação contida, em comparação com a queda acentuada nos mercados globais, sugere que os investidores ficaram aliviados pelo impacto das tarifas de Trump sobre produtos brasileiros ser menos severo do que inicialmente temido.

Além disso, o real brasileiro se fortaleceu significativamente contra o dólar americano, com a moeda americana caindo 1,20% para R$ 5,6281, seu nível mais baixo em seis meses. Este movimento da moeda veio como uma surpresa positiva em meio à turbulência do mercado global desencadeada pelos anúncios de tarifas de Trump.

Economistas da XP observaram que, embora a estratégia tarifária de Trump seja “negativa no geral, poderia ser relativamente benéfica para o Brasil”. Eles destacaram que um conflito comercial poderia proporcionar vantagens para o Brasil, especialmente em relação a commodities, enquanto simultaneamente impulsiona o investimento chinês em projetos de infraestrutura no Brasil e na região latino-americana mais ampla.

“Entre 2018 e 2020, durante o conflito comercial com a China, as commodities brasileiras viram um aumento na demanda à medida que ela mudou dos EUA para o Brasil, impactando positivamente as exportações como soja e milho”, observou a XP.

Iana Ferrao, economista e sócia do BTG Pactual, expressou que as tarifas impostas ao Brasil foram um alívio em comparação com as penalidades mais duras enfrentadas por outras nações. “Com o aumento das tarifas sobre outros países, alguns setores no Brasil podem ganhar uma vantagem competitiva relativa”, explicou.

Estratégias de investimento em um cenário de guerra comercial

Diante desse cenário de transformação das relações comerciais globais, quais estratégias de investimento fazem sentido para o investidor brasileiro? Vou analisar algumas possibilidades:

1. Setores potencialmente beneficiados:

   – Agronegócio: Se a China decidir retaliar contra os Estados Unidos e redirecionar parte de sua demanda para outros fornecedores, o Brasil pode ver oportunidades no setor agrícola. Durante o conflito comercial de 2018-2020, as commodities brasileiras viram um aumento na demanda à medida que ela mudou dos EUA para o Brasil, impactando positivamente as exportações como soja e milho.

   – Mineração e Metais: Embora o setor de aço enfrente desafios, outros segmentos da mineração podem se beneficiar de redirecionamentos de comércio global.

   – Energia: O Brasil pode se beneficiar se a China decidir aumentar suas importações de petróleo brasileiro em resposta às tarifas americanas.

2. Setores potencialmente prejudicados:

   – Siderurgia: Com a tarifa de 25% sobre o aço, empresas como CSN, Gerdau e Usiminas podem enfrentar desafios.

   – Setor Aeroespacial: Empresas como Embraer podem ser afetadas pelas tarifas sobre peças de aeronaves.

3. Oportunidades em Renda Fixa:

   – O fortalecimento do real frente ao dólar pode criar oportunidades em títulos públicos brasileiros, especialmente se o Banco Central do Brasil conseguir iniciar uma trajetória de queda da Selic.

   – Títulos privados de empresas menos expostas ao comércio com os EUA podem oferecer boas oportunidades de rendimento com risco controlado.

4. Diversificação internacional:

   – Em um cenário de incerteza global, a diversificação geográfica de investimentos ganha ainda mais importância.

   – Mercados menos afetados pela guerra comercial EUA-China, como Europa e Japão, podem oferecer oportunidades interessantes.

SetorImpacto das TarifasPotencial de Investimento
AgronegócioPotencialmente positivoAlto
SiderurgiaNegativoBaixo/Médio
Petróleo e GásMistoMédio
AeroespacialNegativoMédio
Varejo DomésticoNeutroMédio/Alto
TecnologiaNeutroMédio

É importante lembrar que as tarifas podem ter efeitos indiretos na economia brasileira. Como observado por especialistas, tarifas mais altas nos EUA podem ter um efeito inflacionário, o que poderia levar a um afrouxamento mais lento da política monetária americana. Isso, por sua vez, poderia causar a depreciação do real brasileiro frente ao dólar, adicionando pressão inflacionária no Brasil e mantendo as taxas de juros em níveis mais altos.

As tarifas impostas por Trump representam um ponto de inflexão nas relações comerciais globais, com implicações significativas para o Brasil e outros países. Embora existam desafios claros para setores específicos da economia brasileira, há também oportunidades emergentes que investidores atentos podem aproveitar.

O Brasil, com sua tarifa relativamente mais baixa de 10% em comparação com outros países que enfrentam taxas de até 34%, pode encontrar-se em uma posição competitiva vantajosa em certos setores. A reação inicial do mercado brasileiro, com o Ibovespa mantendo-se estável e o real se fortalecendo, sugere que os investidores veem mais oportunidades do que ameaças neste novo cenário.

Para o investidor brasileiro, a chave está na diversificação e na análise cuidadosa dos setores mais e menos expostos às turbulências do comércio global. Ao mesmo tempo, é essencial acompanhar de perto os desdobramentos diplomáticos e as possíveis retaliações que podem alterar ainda mais o panorama comercial internacional nos próximos meses.

Fontes e Referências:

Budget Lab, Yale University, abril 2025 – Análise fiscal e econômica das tarifas de Trump
https://budgetlab.yale.edu/research/where-we-stand-fiscal-economic-and-distributional-effects-all-us-tariffs-enacted-2025-through-april

Rio Times Online, abril 2025 – Análise da reação do Ibovespa às tarifas de Trump
https://www.riotimesonline.com/tale-of-two-markets-brazilian-stocks-show-resilience-while-wall-street-sees-worst-day-of-2025/

Valor International, abril 2025 – Oportunidades para o Brasil na guerra tarifária
https://brazilenergyinsight.com/2025/04/04/brazil-may-emerge-as-winner-from-sweeping-us-tariffs-economists-say/

Reuters, abril 2025 – Análise do impacto das tarifas americanas no Brasil
https://www.reuters.com/world/americas/brazil-may-emerge-winner-sweeping-us-tariffs-economists-say-2025-04-03/

Brasil de Fato, março 2025 – Efeitos das tarifas sobre metais na economia brasileira
https://www.argusmedia.com/en/news-and-insights/latest-market-news/2669552-us-tariffs-to-slash-brazil-s-steel-exports-outputCNN, abril 2025 – Análise do impacto global das tarifas de Trump
https://edition.cnn.com/2025/04/04/economy/recession-trump-tariffs-intl/index.html

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Luiz Eduardo Correa Pinto

Assessor de Investimentos Associado na BLUE3 | XP Investimentos, com mais de duas décadas de experiência em liderança comercial e especialização no setor financeiro. Expertise consolidada em soluções de investimentos, planejamento patrimonial e sucessório para pessoas físicas e jurídicas. Sólida trajetória na Indústria de Pagamentos, incluindo POS, API, câmbio e soluções SAAS. Experiência multicultural em negociações complexas e gestão de relacionamentos estratégicos.

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